Reconhecido como um dos maiores nomes da área ambiental no Brasil, José Carlos Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente, fez uma apresentação no encerramento do Simpósio Internacional de Biodiversidade (Sinbio), realizado na Universidade Federal de Lavras (UFLA), de 2 a 4 de setembro. Os impactos do novo Código Florestal Brasileiro na biodiversidade foram apresentados e debatidos por um público seleto, composto por estudantes, pesquisadores e representantes de instituições públicas, associações e organizações não governamentais.
Acostumado a representar o País em eventos globais sobre sustentabilidade e com a experiência de ter ocupado cargos importantes como secretário de Governo de Meio-Ambiente de Minas Gerais e diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), José Carlos salientou que o debate acerca do Novo Código Florestal foi dominado por questões sobre o uso da terra, em detrimento a uma nova política florestal e conservação da biodiversidade.
Em sua avaliação, prevaleceu a visão monolítica e unilateral do setor agrícola, faltando ciência ao debate, que deveria ser plural, integrado, envolvendo diferentes temáticas. Mais uma vez, segundo Carvalho, o desenvolvimento agrícola e a preservação ambiental foram colocados de forma antagônica, o que representa um falso dilema.
O resultado dessa visão foi a manutenção de uma política baseada em comendo e controle, ou seja, pune quem desmata, mas não incentiva o uso sustentável dos recursos naturais. “A Lei, por si só, sem uma nova política florestal, não funciona. É preciso uma política de estímulo”, destaca, reforçando ainda que será necessária a implantação de políticas públicas para amparar o cumprimento da Lei no que se refere ao reflorestamento de uma área superior a 20 milhões de hectares nos próximos 25 anos.
Biodiversidade dos Biomas
A Plenária “Biodiversidade dos Biomas” teve como coordenador o reitor da UFLA, professor José Roberto Scolforo, que apresentou os diferenciais e resultados do Inventário Florestal de Minas Gerais, que contribuiu para o conhecimento da diversidade da flora nos biomas mineiros. A equipe do Laboratório de Estudos e Projetos em Manejo Florestal (Lemaf), sob a coordenação de Scolforo, realizou, de 2003 a 2009, o mapeamento e monitoramento de todo o Estado, com mais de 12 mil pontos de coletas de dados, 780 mil árvores, em 169 fragmentos.
Além de ter gerado um enorme banco de dados, publicados em sete volumes e disponibilizados integralmente na Internet, o Inventário de Minas Gerais contribuiu para a redução do desmatamento da vegetação nativa no período, indicando aos órgãos competentes todas as informações necessárias para a fiscalização e controle, incluindo, a frequência e a indicação dos municípios que mais desmatavam.
“Não há como fazer política de proteção da biodiversidade, com sensatez entre produção e preservação, sem conhecer em profundidade as especificidades de cada bioma”, enfatizou Scolforo.
Presente no evento, o diretor-geral do IEF, Bertholdino Teixeira Junior, afirmou que a intenção do Instituto é retomar o Inventário Florestal em parceria com a UFLA, destacando a importância do relacionamento de longo prazo com a Universidade. Além de prestigiar o evento, Bertholdino destacou a contribuição da UFLA como celeiro de novos profissionais, por meio da graduação, pós-graduação ou treinamentos específicos.
Troca de experiências
O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Niro Higushi apresentou as especificidades do Inventário Florestal Contínuo do Amazonas IFC-AM, que deverá ser finalizado em 2014. O IFC-AM completo terá 17 sítios diferentes em todas as mesorregiões do estado. A meta é apresentar um mapa de carbono florestal do Amazonas, a partir de algoritmos desenvolvidos para diferentes escalas.
O pesquisador da Fundação Universidade Regional de Blumenau, Alexandre Christian Vibrans, apresentou aos participantes os resultados do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, como ferramenta para avaliação da biodiversidade em escala regional.
Representando o Serviço Florestal Brasileiro, Jober Veloso de Freitas apresentou as potenciais contribuições do Inventário Florestal Nacional, para o conhecimento da flora dos diferentes biomas brasileiros. Trata-se de um inventário que abrange todo o País, utilizando técnicas de amostragem que possibilita o monitoramento contínuo dos seus recursos florestais, tendo como principal propósito fornecer informações para subsidiar a definição de políticas florestais, a gestão dos recursos florestais e a elaboração de planos de uso e conservação dos recursos florestais.
Internacionalização
A Planária dobre Biomas contou com a participação do pesquisador João Faustino Munguambe, que apresentou a biodiversidade de Moçambique, explicando os diferentes tipos de florestais do país. O professor Jongman Alterra, da Universidade de Wageningen, Reino Unido, apresentou um modelo global para o monitoramento da biodiversidade, reforçando o compartilhamento de informações e tecnologias como aspecto fundamental para o acompanhamento das transformações em grandes áreas e os desafios que são apresentados.
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