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Biologia Subterrânea: UFLA inaugura Centro de Estudos e dá início ao segundo simpósio brasileiro sobre a ciência

O início da semana foi marcado por novidades no Departamento de Biologia (DBI) da UFLA. Na noite de segunda-feira (2/10), foi realizada a cerimônia de abertura do II Simpósio Brasileiro de Biologia Subterrânea, oportunidade em que celebrou-se também as novas dependências físicas do Centro de Estudos em Biologia Subterrânea (CEBS), inaugurado oficialmente na manhã desta terça-feira (3/10).

O CEBS é um projeto desenvolvido a partir de um convênio da Universidade com a empresa Vale, que além de subsidiar a execução da obra, tem disponibilizado bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado para o desenvolvimento de pesquisas científicas focadas em espeleologia, que são os estudos da formação e dos organismos que vivem dentro de cavernas.

Para o reitor da UFLA, José Roberto Soares Scolforo, a inauguração do CEBS representa um passo à frente da Instituição no fomento às pesquisas sobre a vida em cavernas e o meio-ambiente. Scolforo também citou o comprometimento dos integrantes do DBI na construção e na viabilização do centro. “As cavernas estão em áreas ricas em minerais e, naturalmente, existe interesse econômico em explorar esses recursos. Se você não conhecer o que há em determinada caverna, você não vai saber garantir se o empreendimento pode ser realizado ou não. Sem conhecimento, corre-se o risco de eliminar a biodiversidade. Conhecimento definindo a preservação da vida e onde a atividade econômica pode ser instalada, essa é a grandiosidade deste centro”, acrescentou.

Scolforo também destacou a parceria público-privada como um meio saudável e essencial para crescimento da Universidade. “É muito importante podermos contar com uma empresa tão grandiosa como a Vale, que a partir de uma responsabilidade sócio-ambiental, se soma à nossa Universidade para desenvolver pesquisas e tecnologia. Temos conseguido efetivar parcerias que agregam à comunidade acadêmica e à produção científica, sem perdermos, obviamente, nossa autonomia no desenvolvimento das pesquisas. Por meio de parcerias com empresas privadas, temos aumentado as chances de empregos para nossos alunos, ampliado nossos laboratórios, atraído novos pesquisadores e nos destacado, também, nos rankings universitários”, concluiu.

O gerente executivo de Licenciamento Ambiental, Estudos, Espeleologia, Saúde e Segurança da Vale, Rodrigo Dutra Amaral, contou que a empresa investiu no projeto porque enxergou nele um grande ganho para a ciência. “Sabemos que, no país, nós temos uma grande carência de pesquisas na área e de taxonomistas de diversos grupos de fauna. Este centro de referência vai transformar informação em conhecimento e divulgar essa ciência tão rica à sociedade. Em nome da Vale, venho agradecer a parceria e reafirmar nosso compromisso de continuar apoiando as pesquisas aqui na UFLA, uma universidade modelo para o estado e para o Brasil”, reforçou.

O coordenador do Centro de Estudos em Biologia Subterrânea, professor Rodrigo Lopes Ferreira (DBI), não escondeu a emoção ao participar da inauguração do prédio. Entusiasmado com a iniciativa, o professor contou ser um dos incentivadores na instituição de pesquisas sobre a vida em lugares subterrâneos, e acredita que o CEBS será um marco na produção de trabalhos científicos nessa área. “Este centro é mais que a materialização de um sonho, é o enraizamento de uma ideia”, afirmou.

Conhecimento compartilhado

O II Simpósio Brasileiro de Biologia Subterrânea vai até o dia 6/10, e conta com palestras e mini-cursos de pesquisadores de vários países.

De acordo com Rodrigo, que é também coordenador do evento, o estudo de cavernas ainda é incipiente no Brasil, principalmente quando se trata de fauna subterrânea. Por isso, nesta edição, o evento tem como objetivo “aglomerar pessoas com diferentes formações para criar um ambiente de discussão, onde seja possível disseminar conhecimentos para educar pessoas que, em sua instância possam, da melhor forma, conservar esses ambientes”, explicou.

Confira a programação do simpósio em www.biosubbrasil.com.br.


Com informações e fotos de Rafael Passos , Jornalista/bolsista – Fapemig

Pesquisador da UFLA descobre novo gênero de cigarrinha que habita apenas uma caverna brasileira

A cigarrinha é chamada de Iuiuia caeca, com o nome de gênero (Iuiuia) referindo-se à localidade, onde foi encontrada, e seu nome da espécie (caeca) traduzindo-se "cego" em latim.
A cigarrinha é chamada de Iuiuia caeca, em referência à localidade onde foi encontrada.

É um gênero novo que descobrimos. É uma história interessante…”. Assim inicia mais uma descoberta do professor Rodrigo Lopes Ferreira, do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (DBI/UFLA). Desta vez, o pesquisador descobriu um novo gênero de cigarrinha que sobrevive sem ver a luz do dia em qualquer momento de sua vida. Ela não tem olhos e nem as asas funcionais, típicos de seus parentes. É rara e até o momento só há registros desse gênero em uma única caverna, que está no município de Iuiú, na Bahia.

“Toda vez que viajamos para uma região nova, para a qual ninguém foi, achamos várias espécies, pois não há tantos pesquisadores trabalhando com cavernas no país. Fomos para o município de Iuiú, na Bahia, e visitando essa caverna, achamos várias espécies troglóbias, estritamente cavernícolas, ou seja, que só existem neste ambiente. Em uma dessas visitas, achamos um pseudo escorpião. Voltamos outra vez para achá-lo na fase adulta e esbarramos em casinhas de tatuzinhos. Quando retornamos para poder estudar essas casinhas, encontramos a cigarrinha”, explica o professor, reconhecido pela atuação em ecologia de cavernas.

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Professor Rodrigo Lopes Ferreira, do Departamento de Biologia da UFLA

Para finalizar a descoberta, o professor contactou o Museum für Naturkunde, em Berlim. Contando com a ajuda da professora Hannelore Hoch, decidiram documentar e descrever o novo gênero. A cigarrinha é chamada de Iuiuia caeca, com o nome de gênero (Iuiuia) referindo-se à localidade onde foi encontrada, e o nome da espécie (caeca), traduzindo-se “cego” em latim.

O interessante é que essa cigarrinha pertence a uma família em que não é tão comum se ter espécies cavernícolas. “Não é de um grupo comumente achado em cavernas. É uma família pequena, pouco conhecida, cerca de cem espécies descritas na família”, complementa Rodrigo. Ele explica que há grupos em que é mais comum de se ter espécies troglóbias, como besouros, aranhas, tatuzinhos; já as cigarrinhas não.

O professor acredita que essa seja uma espécie endêmica e rara, já que não foi encontrada em habitats subterrâneos próximos. Apesar de a caverna de Iuiú não ter sinais de visitas humanas, há uma preocupação quanto à preservação do local. Rodrigo também destaca que dentro do cenário mundial, o Brasil começa a se destacar como uma área interessante para cigarrinhas cavernícolas. “O potencial para descoberta no Brasil é gigante. Hoje são 16 mil cavernas cadastradas no país, mas estima-se que se tenha mais de 200 mil. Há muitas regiões ainda para se explorar, muitas espécies para serem descobertas”, afirma.

Texto: Camila Caetano – jornalista/ bolsista UFLA

Simpósio Brasileiro de Biologia Subterrânea recebe resumos até 26/9 – evento será em outubro, na UFLA

cartaz-sbbsA biologia subterrânea (fauna e flora encontradas nas cavernas) ainda é um campo relativamente pouco explorado. Para evidenciar mais essa área de pesquisa no Brasil, será promovido, na UFLA o 1º Simpósio Brasileiro de Biologia Subterrânea, de 27 a 30 de outubro. O evento compartilhará o conhecimento de pesquisadores e buscará contribuições para políticas públicas em prol do correto uso e conservação do patrimônio bioespeleológico brasileiro, por meio de palestras, mesas-redondas, minicursos e apresentações de trabalhos.

Os interessados já podem consultar a programação e a forma de inscrição no evento no site: www.biosubbrasil.com.br.  Ali, também há informações sobre os palestrantes, contatos, hospedagem, alimentação e como chegar à UFLA. O formulário de inscrição pode ser visualizado aqui. O número de vagas para cada minicurso é limitado.

Inscrição de trabalhos

Cada inscrito no evento poderá submeter até dois resumos, que devem ser enviados para o e-mail resumos@biosubbrasil.com.br. O envio deve ser feito até 26 de setembro, conforme instruções disponíveis no endereço: http://biosubbrasil.com.br/resumos.

Concurso de fotografia

Os participantes também poderão integrar um concurso de fotografias. Cada um poderá concorrer com até três fotografias que abordem animais, interações em geral, relações ecológicas e outros aspectos da biologia subterrânea. Os participantes do evento votarão nas preferidas e as três mais votadas serão premiadas com um livro. A primeira colocada terá a foto publicada na capa de uma edição especial da Revista Brasileira de Espeleologia.

A realização do simpósio é do Centro de Estudos em Biologia Subterrânea (Cebs).

Acesse aqui o site do 1º Simpósio Brasileiro de Biologia Subterrânea.

 

Pesquisador da UFLA descobre espécie de “tatuzinho” cavernícola que constrói abrigos

iuiu1Uma nova espécie de “tatuzinho” cavernícola, que possui a característica peculiar de construir abrigos para si, foi descoberta pelo professor Rodrigo Lopes Ferreira, do Departamento de Biologia da UFLA (DBI). O animal, nomeado cientificamente de Iuiuniscus iuiunensis, pertence a uma subfamília e gênero novos. Sua descoberta foi relatada em artigo publicado na revista PLOS One e a descrição morfológica foi feita com o apoio dos pesquisadores Leila Souza (UECE) e André Senna (UFBA).

O animal em sua troca do exoesqueleto, dentro de abrigo construído.
O animal em sua troca do exoesqueleto, dentro de abrigo construído.

O animal, um crustáceo da ordem isopoda, foi encontrado pela primeira vez em 2007, em uma caverna localizada em Iuiu, sudoeste da Bahia (o nome foi dado em homenagem à cidade). Mas a descrição começou apenas há cerca de dois anos: “Já temos outros animais encontrados lá sendo descritos. Não começamos o trabalho de descrição assim que descobrimos, esse intervalo de tempo é comum”, diz o professor Rodrigo.

Mas a característica incomum de construir abrigos chamou a atenção: “Foi numa segunda visita a Iuiu que descobrimos que o animal construía uma ‘casinha’”, conta o pesquisador. Essa é uma característica única em animais da classe Oniscidea (a mesma dos tatus-bola) conhecidos no ocidente.

O Iuiuniscus iuiunensis, que não chega a ter um centímetro quando adulto, sobrevive tanto em lagoas dentro das cavernas quanto no solo e constrói abrigos por motivos ainda desconhecidos. Para o professor Rodrigo, a razão dos abrigos pode estar relacionada à proteção contra predadores durante a troca do exoesqueleto.

Dois gêneros podem ser vistos na lagoa, sendo um deles sem os "espinhos" no exoesqueleto.
Dois gêneros podem ser vistos na lagoa, sendo um deles sem os “espinhos” no exoesqueleto.

Em um dos gêneros encontrados, o animal apresenta “espinhos” na lateral do corpo, o que o professor acredita serem uma forma de defesa desenvolvida contra os predadores (no caso, peixes, que teriam dificuldade em abocanhar o crustáceo com mais espinhos). Essa espécie, no entanto, coexiste com outra, que não possui tais espinhos.

O artigo científico que descreve o Iuiuniscus iuiunensis está disponível aqui.

Outra descoberta do professor Rodrigo Lopes ganhou notoriedade em 2014: uma espécie de insetos cavernícolas que possui o sexo revertido, fato inédito na ciência até então.