Pesquisadora da UFLA realiza avaliação genética de três raças de touros

Saber qual animal apresenta melhor adaptação ao clima brasileiro, é um dos fatores avaliados por uma pesquisa realizada pelo Departamento de Zootecnia (DZO/UFLA), em um projeto de extensão que teve início em 2012. O Grupo de Melhoramento Animal e Biotecnologia (Gmab), em parceria com a Casa Branca Agropastoril Ltda., realiza avaliação genética de touros de três raças: Angus, Simental e Brahman.

Desde o início dos trabalhos, os dados são coletados na fazenda Santa Ester, em Silvianópolis, Minas Gerais. Cerca de 600 animais foram analisados quanto a quatro grupos de características, sendo elas: desempenho, morfologia, carcaça e adaptabilidade. O objetivo da pesquisa é identificar quais genes são responsáveis pelas características de interesse. A coordenadora do Gmab, a pesquisadora Sarah Laguna Conceição Meirelles, explica que para realizar as provas de desempenho – um teste individual para identificar os animais geneticamente superiores – os touros são colocados dentro de um mesmo sistema de semiconfinamento durante cerca de 112 dias. Nesse período, os animais ficam no mesmo tipo de instalação, com alimentação e manejo iguais. “O desempenho de um animal é derivado da somatória de fatores genéticos, como a qualidade genética e de fatores ambientais; por isso, nessas provas nós retiramos o fator ambiental. Assim, o animal que tem ao final da prova o melhor desempenho para certas características é melhor geneticamente em relação a essas características. ”

Nas raças Angus e Simental, que são bovinos de origem europeia, o primeiro atributo avaliado pela equipe do Gmab é a adaptabilidade: para isso, são medidas a frequência respiratória, a temperatura do pelame, a temperatura retal e comprimento dos pelos. “Um animal que é mais adaptável ao nosso clima, consequentemente vai ter um melhor desempenho nessas provas, comparado a algum outro,” comenta o estudante de graduação Tiago Felipe Silva. No desempenho, as três raças: Angus, Simental e Brahman são observadas quanto ao ganho de peso diário e o peso final padronizado, considerando que todas as pesagens são efetuadas após jejum completo de, no mínimo, de 12 horas.

Na parte de morfologia, profissionais devidamente treinados julgam os aprumos, a musculosidade, a reprodução e o equilíbrio através de escores visuais. Já em relação à qualidade de carcaça, as características: área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, espessura de gordura na picanha e porcentagem de gordura intramuscular são avaliadas somente no final da prova, através de uma ultrassonografia feita por um técnico credenciado na Associação de Técnicos de Ultrassom do Brasil (Atubra). Ao final das avaliações, cada animal recebe um índice e aquele com o maior é superior geneticamente.

Com os dados obtidos, é possível desenvolver diversas pesquisas de graduação e pós-graduação. Além disso, os estudantes ganham experiência ao fazer essas avaliações genéticas, tendo um contato maior com os produtores e funcionários de uma grande empresa. Já a fazenda ganha uma avaliação de sua genética, com um grande número de características, agregando valor de mercado aos seus animais avaliados.

 

Para este ano, dando continuidade do projeto, a expectativa, de acordo com a pesquisadora da UFLA, é conseguir identificar e mensurar o consumo individual de cada animal para fazer estudos sobre a eficiência alimentar através de cochos eletrônicos. “O bovino de corte mais eficiente é aquele que irá ingerir menos quantidade de alimento e transformar isso em mais carne e é isso que pretendemos avaliar agora”, diz a professora Sarah. A busca por genes relacionados com as características avaliadas nas provas de desempenho também terá início em 2018. Alunos de pós-graduação sob orientação da docente iniciarão pesquisas de associação genômica ampla (GWAS), podendo, assim, identificar regiões do genoma ou genes que influenciam mais essas características. Após essa identificação, será possível estudar as vias metabólicas desses genes para entender melhor como os animais, por exemplo, se adaptam mais ao nosso clima.

A pesquisadora acredita que, num futuro próximo, talvez seja possível selecionar reprodutores baseando-se na composição dos genes dos animais, e não somente por meio de fenótipos de frequência respiratória e outros avaliados nas provas, aumentando acurácia de predição do valor genético desses animais.

 

Reportagem e imagens:  Karina Mascarenhas, jornalista – bolsista Fapemig/Dcom
Edição do vídeo:  Mayara Toyama, bolsista Fapemig/Dcom

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.