Tese defendida na UFLA ganha Prêmio Capes 2016

O autor da tese premiada, Teotônio de Carvalho, com a orientadora no Brasil, professora Fátima Moreira
O autor da tese premiada, Teotônio de Carvalho, com a orientadora no Brasil, professora Fátima Moreira

Teotônio de Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (PPGCS) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), venceu o Prêmio Capes de Tese 2016. A tese “Land-use change and soil bacterial communities in the Brasilian Eastern Amazon: implications for conservation and ecosystem function (Mudança no sistema de uso da terra e comunidades microbianas do solo na Amazônia brasileira: implicações para conservação da biodiversidade)”, foi considerada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)  a melhor tese defendida, em 2015, na área de Ciências Agrárias I.

O Prêmio Capes de Tese é outorgado à melhor tese de doutorado em cada uma das 48 áreas do conhecimento reconhecidas pela Capes. Apesar dessa abrangência, o pró-reitor de Pós-Graduação da UFLA, professor Rafael Pio, ressalta que o prêmio em Ciências Agrárias I é o segundo mais concorrido, uma vez que há 224 Programas de Pós-Graduação em todo o País. “Esse prêmio enaltece o trabalho desenvolvido pelo PPGCS/UFLA que atualmente possui nota 7, nota máxima conferida pela Capes na avaliação dos Programas de Pós-graduação”, comenta.

A tese da UFLA premiada neste ano é fruto do programa de Titulação Simultânea entre a UFLA e a Universidade de Lancaster, Reino Unido, sob a orientação na UFLA da professora Fátima Moreira e Jos Barlow, pela Lancaster University, Reino Unido, e coorientação do professor James M. Tiedje, da Michigan State University (EUA).  A pesquisa realizada contribui para o entendimento dos fatores que governam a diversidade de bactérias do solo em sistemas manejados pelo homem na Amazônia.

“O solo tem uma função muito importante para a manutenção dos serviços de ecossistema, como o ar puro, a água. Então, quando derrubamos uma floresta há a produção de recurso financeiro, mas há também uma perda econômica que ainda não conseguimos avaliar toda a dimensão. Por isso, é importante saber como isso afeta os organismos que estão no solo. No meu caso, eu trabalhei com as bactérias, e constatamos uma comunidade de bactérias distinta da anterior. Então, nos perguntamos, qual é o impacto disso ao ecossistema?”, explica Teotônio.

A tese da UFLA premiada neste ano é fruto do programa de Titulação Simultânea entre a UFLA e a Universidade de Lancaster, Reino Unido
Transporte das amostras dentro da Floresta Amazônica. Em um único dia, Teotônio chegou a caminhar mais de 8 km dentro da mata com cerca de 40 kg de solos. Essas amostras foram utilizadas na tese.

Segundo Teotônio, por meio de sua tese, foi possível verificar que a visão de riqueza de espécies não é um bom parâmetro para avaliar se o ecossistema está saudável, é fundamental verificar também a identidade das espécies, e se houve alguma alteração. “Geralmente se tem a ideia que ao converter uma floresta para uma agricultura haverá perda de espécies. Na minha tese foi mostrado que em relação às bactérias isso não ocorre, o problema é que muda as espécies presentes. O que pode causar um impacto maior do que imaginamos”, comenta.

Nesse trabalho de tese também se estudou o efeito da intensidade de uso da terra sobre a capacidade de as bactérias do solo resistirem a estresses hídricos ou recuperarem-se deles. “Outros dois capítulos da tese foram dedicados a superar limitações metodológicas no desenho de iniciadores para amplificação de genes funcionais e a demonstrar limitações previamente desconhecidas em um índice de resiliência/resistência amplamente utilizado em estudos da importância da biodiversidade para a manutenção do funcionamento do ecossistema”, relata Teotônio.

Atualmente Teotônio atua como pesquisador em pós-doutoramento no grupo de pesquisa liderado pelo professor Luiz Roberto Guimarães Guilherme, no Departamento de Ciência do Solo da UFLA, em um projeto intitulado Elementos terras raras (ETR’s) em fertilizantes e efeitos nas plantas.

O resultado do Prêmio Capes de Tese 2016 foi publicado no Diário Oficial da União de 10 de outubro de 2016 (clique aqui para acessar o arquivo). A cerimônia de entrega acontecerá em Brasília, no dia 14 de dezembro. Além disso, a tese também está concorrendo ao Grande Prêmio, que será outorgado para a melhor tese selecionada entre as vencedoras do Prêmio Capes de Tese, agrupadas em três grandes áreas.

A história de Teotônio na pesquisa

Com o grupo “Ribosomal Database Project”, com o qual Teotônio aprofundou os conhecimentos sobre algoritmos em bioinformática
Com o grupo “Ribosomal Database Project”, com o qual Teotônio aprofundou os conhecimentos sobre algoritmos em bioinformática

Teotônio é de Aracaju/SE e seu interesse pelo solo surgiu ainda na infância. Ele conta que começou a trabalhar na lavoura com seus pais aos 10 anos. “Isso despertou em mim desde cedo o interesse pelo solo e pelos organismos nele presentes. Embora na minha juventude, no interior de Sergipe, um curso superior parecia algo fora de alcance, eu sonhava cursar Agronomia para entender melhor a terra. Em 2006, fui convencido a prestar vestibular para a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e, para minha completa surpresa, fui aprovado. Cursei agronomia durante três períodos na UFS e, por orientação de professores daquela Universidade, fui a Lavras prestar o vestibular para o curso de agronomia da UFLA, sendo admitido em 2007”, conta.

Em sua trajetória na UFLA, o estudante morou no alojamento estudantil e trabalhou no Restaurante Universitário, posteriormente conseguiu uma bolsa no Programa de Educação Tutorial (PET) da Agronomia, sob a supervisão do professor Vicente Gualberto e, logo depois, ingressou com afinco na pesquisa. “Comecei a frequentar o Laboratório de Microbiologia do Solo e fui acolhido pelo grupo de pesquisa liderado pela professora Fatima Moreira. Ali definitivamente encontrei o meu lugar. Em 2009, consegui uma bolsa de iniciação científica e, surpreendentemente, a professora Fatima resolveu confiar à ele, como sua primeira tarefa na iniciação científica, a responsabilidade de redigir com ela um capítulo do livro Micorriza: 30 anos de pesquisas no Brasil”, relata.

Ainda na graduação, Teotônio também foi autor e coautor de diversos artigos científicos. Com a professora Fátima e professor José Oswaldo Siqueira, assinou o artigo “Effect of fertilizers, lime, and inoculation with rhizobia and mycorrhizal fungi on the growth of four leguminous tree species in a lowfertility soil” publicado em 2010 na “Biology and Fertility of Soils”.

A professora Fátima, que acompanhou a trajetória de Teotônio desde a graduação, conta que logo no início percebeu que ele tinha potencial para a pesquisa e por isso sempre procurou lhe incentivar. “Nossa missão, como professor, é a de ensinar e dar o aporte necessário para que os estudantes possam se desenvolver. Ele sempre foi um estudante especial, com alto desempenho e de muita generosidade… compartilha com os demais o seu conhecimento. A história de vida dele também é surpreendente, dá orgulho ter contribuído e participado um pouquinho dessa trajetória”, conta a professora.

Teotônio com a esposa Caroline, a filha Lana, e o coorientador nos EUA, Dr. James M. Tiedje
Teotônio com a esposa Caroline, a filha Lana, e o coorientador nos EUA, Dr. James M. Tiedje

Com tanta dedicação durante o curso, o estudante foi orientado pela professora Fátima a ingressar no curso de Doutorado em Ciência do Solo diretamente da graduação. “Felizmente cumpri os pré-requisitos necessários (fluência no inglês, coeficiente de rendimento acima de 85%, três anos de iniciação científica, além de publicações na área) e iniciei uma titulação simultânea (dual Ph.D.) com a UFLA e a Lancaster University”.

Em 2012, Teotônio foi à Inglaterra com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) onde participou por cinco meses do grupo de pesquisa “Soil and Ecosystems Ecology”, liderado pelo professor Richard Bardgett, seu orientador pela Lancaster University. Em 2014, obteve uma bolsa do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE-Capes) para desenvolver atividades de pesquisa na Michigan State University durante nove meses, nos Estados Unidos, sob a supervisão do professor James M Tiedje. Em 2015, recebeu o doutorado em Ciência do Solo pela UFLA e o Ph.D. em “Science of Tropical Environments” pela Lancaster University, com a atual tese premiada.

Para Teotônio, é primordial ressaltar a colaboração de todos os envolvidos na sua tese, além de salientar a importância de ter tido a oportunidade de ampliar o seu conhecimento em instituições internacionais. “Uma das coisas que eu fico satisfeito com esse prêmio é poder mostrar a importância desses programas internacionais. Eu não tenho dúvidas de que não chegaria a essa qualidade sem ter trabalhado também na Inglaterra e nos Estados Unidos, com excelentes orientadores. Essa internacionalização para mim é essencial”, afirma Teotônio.

Professores da UFLA também foram contemplados

A professora do Departamento de Medicina Veterinária (DMV/UFLA) Elaine Maria Seles Dorneles também foi contemplada com o Prêmio Capes Tese 2016, pela tese Immune response of calves vaccinated with Brucella abortus S19 or RB51 and revaccinated with RB51”, defendida no ano de 2015, sob orientação dos professores Andrey Pereira Lage e coorientação de Andréa Teixeira Carvalho, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A professora Elaine tomou posse na UFLA em 2016.

Outro professor da Universidade que também teve a tese premiada foi Amaro de Oliveira Fleck, do Departamento de Ciências Humanas (DCH/UFLA), que recebeu o Prêmio Capes de Tese 2016 na área de Filosofia/Teologia pela tese “Theodor W. Adorno: Um crítico na era dourada do capitalismo”, defendida no ano de 2015 na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob a orientação do professor Alessandro Pinzani. O professor Amaro tomou posse na UFLA em 2016.

Histórico de trabalhos da UFLA que receberam a distinção

2006 – Autor: Giuliano Marchi – Orientador: professor Luiz Roberto Guimarães – Programa de Pós-Graduação em Agronomia (DAG).

2007 – Autora: Gláucia Maria Vasconcellos Vale – Orientador: professor Robson Amâncio – Programa de Pós-Graduação em Administração (DAE).

2008 – Autor: Mônica Juliani Zavaglia Pereira (indicada ao Prêmio) – Orientador: professor Magno Antonio Patto Ramalho – Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas (DBI) e Autora: Kelen Cristina dos Reis – Orientadora: professora Joelma Pereira – Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos (DCA)).

2009 – Autor: Ederson da Conceição Jesus – Orientadora: professora Fátima Maria de Souza Moreira – Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (DCS))

2010 – Autor: Flávio Henrique Vasconcelos de Medeiros – Orientador: professor Ricardo Magela de Souza e coorientadores, professores José da Cruz Machado (UFLA), Paul Pare (Texas Tech) e Alan Pomella (iniciativa privada) – Programa de Pós-Graduação em Agronomia/Fitopatologia).

2011 – Autor: Iara do Rosário Guimarães – Orientador: professor Luiz Carlos Alves de Oliveira – Pós-Graduação em Agroquímica (DQI/UFLA)).

2012 – Autor: Sílvio Junio Ramos – Orientação: Valdemar Faquin e coorientação dos professores Luiz Roberto Guimarães Guilherme (DCS/UFLA) e Li Li (Cornell University, EUA) – Programa de Pós-Graduação de Ciência do Solo (DCS/UFLA) e Autora: Maria Cristina Silva (Menção Honrosa) – Orientação: professora Angelita Duarte Corrêa (DQI/UFLA) – Programa de Pós-Graduação em Agroquímica (vencedora do Prêmio Capes-Vale de Sustentabilidade)).

2013 – Autor: Eliane Cristina de Resende – Orientador: professor Mário César Guerreiro – Programa de Pós-Graduação em Agroquímica e Autor: Guilherme Oberlender (Menção Honrosa) – Orientador: professor Luis David Solis Murgas e coorientadores: professores Márcio Gilberto Zangeronimo e Mônica Rodrigues Ferreira Machado, do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFLA).

2014 – Autor: Carla Priscila Coelho – Orientação: professor Antonio Chalfun Júnior e coorientação do professor da Universidade de Guelph (Canadá), Joseph Colasanti -Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Vegetal (Menção Honrosa)).

Texto: Camila Caetano – jornalista/ bolsista UFLA.