Só 12,1% dos jovens entre 18 e 24 anos são universitários

Folha de São Paulo, 20/12/07

Angela Pinho, Antônio Gois e Fábio Takahashi

A taxa, que estava estagnada em 9%, obteve crescimento, mas não deve alcançar meta estipulada para 2011, de 30%

Repetência e ingresso tardio no ensino básico estão entre razões para que a chegada dos jovens à universidade ocorra com mais de 24 anos

Apenas 12,1% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos estão matriculados em algum curso superior. O número, divulgado ontem, mantém o país distante da meta do Plano Nacional de Educação de chegar a pelo menos 30% em 2011.

Integrantes do próprio governo admitem que será muito difícil o país chegar a esse patamar daqui a quatro anos.

O presidente do Inep (instituto de pesquisa ligado ao MEC), Reynaldo Fernandes, argumenta, por outro lado, que o número ficou estagnado no patamar de 9% durante muito tempo e só começou a se mover recentemente. De 2005 para 2006, as matrículas de jovens no ensino superior cresceram 1,2 ponto percentual -o índice era de 10,9 há dois anos e havia sido de 10,4 em 2004.

Uma das razões para esses baixos valores é a repetência ou mesmo a entrada tardia do aluno na educação básica, que faz com que ele ingresse na universidade com mais de 24 anos. Há também o fato de os alunos do ensino à distância -que correspondem a 4,4% da presencial- serem, em média, seis anos mais velhos do que os estudantes da educação presencial.

Ainda assim, porém, se todos os matriculados no ensino superior tivessem entre 18 e 24 anos -faixa considerada adequada para esse nível- a taxa de matrícula ficaria em 20,1%.
Os dados divulgados ontem confirmam ainda que, embora não seja suficiente para o índice geral de matrículas, a graduação à distância registrou crescimento de 80,7% em relação a 2006, contra 5,4% da educação presencial no período.

Lula e FHC

O censo da educação superior de 2006 fecha os números do setor durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Após cinco anos de quase estagnação, o número de vagas oferecidas pelas instituições federais de ensino superior aumentou 14,4% de 2005 para 2006, o maior crescimento nos últimos dez anos. Esse aumento, porém, ainda não se refletiu no número de alunos matriculados e, com isso, o presidente Lula terminou seu primeiro mandato registrando um crescimento inferior ao verificado nos dois mandatos de FHC.

Considerando apenas as matrículas -ou seja, o total de alunos que estudavam em todas as séries do ensino superior-, o crescimento no primeiro governo Lula (2003 a 2006) foi inferior ao dos dois mandatos de FHC (1995 a 1998 e 1999 a 2002). No governo Lula, o número de alunos em universidades federais cresceu apenas 4%. No primeiro mandato de FHC, essa variação foi de 11% e, no segundo, de 20%.

Jovens do DF vivem melhor; SP ocupa o terceiro lugar em ranking

Pesquisa considera mortalidade, qualidade de ensino, matrículas e renda

O Distrito Federal é a unidade da federação em que os jovens vivem melhor, enquanto Alagoas é o pior lugar. A conclusão é de um estudo do pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). O ranking foi feito de acordo com o IDJ (Índice de Desenvolvimento Juvenil), que é bianual e considera indicadores de mortalidade, qualidade de ensino, matrículas e renda. Semelhante ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), vai de zero a um.

O Distrito Federal aparece em primeiro lugar, com 0,666, substituindo Santa Catarina (0,647), que liderava o ranking desde 2003, quando o índice foi criado. São Paulo ficou em quarto lugar em 2003 e 2005 e, neste ano, subiu uma posição, com 0,627. Na lanterna nos três anos, Alagoas fica com 0,367. O número do Brasil é de 0,537 -0,002 a mais do que nas duas últimas medições.

O paulistano Cássio Sá de Camargo, 29, que se mudou para Florianópolis (SC) há sete anos, dá a sua versão para o resultado: ‘O povo daqui vive para curtir a vida, para ser feliz. Em São Paulo, as pessoas pensam muito em dinheiro’.

Desigualdade

O Relatório de Desenvolvimento Juvenil faz também um diagnóstico da desigualdade no Brasil. Mais de um terço (35%) dos jovens de 15 a 24 anos que estão entre os 10% mais pobres não trabalham nem estudam. Para Jacobo, o dado mostra que a expansão de matrículas no ensino fundamental não chegou a outros níveis escolares.

No outro extremo, o dos 10% mais ricos, esse percentual é de 8%. Entre todos os jovens, essa situação de falta de trabalho e de estudo atinge 20% dos brasileiros de 15 a 24 anos.
A maior aparente ociosidade é encontrada entre mulheres, o que pode ser um reflexo da dificuldade de entrada no mercado de trabalho e da incidência de gravidez entre adolescentes, especialmente nas faixas mais pobres. Entre os homens, o percentual dos que não estudam nem trabalham é de 13%, variando de 23% entre os mais pobres a 6% entre os mais ricos.

Somente entre as mulheres, o percentual total sobe para 28% -mais que o dobro entre os homens-, indo de 46% entre as mais pobres a 10% entre as mais ricas.

No caso dos homens, a principal explicação para esses percentuais menores é o fato de a maioria deles já estar no mercado de trabalho, seja conciliando emprego e estudo (41% dos casos), seja somente trabalhando (20%).

Entre as mulheres jovens, essa inserção no mercado é bem menor: apenas 15% conciliam as duas atividades e 25% só trabalham.

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