Rumos da educação

Programa Bom Dia Brasil, 11/12/2007

Os novos números da educação brasileira atestam o mau desempenho dos alunos. Esse é o tema da entrevista com o ministro da Educação, Fernando Haddad. Os novos números da educação brasileira expõem o tamanho de um problema antigo: espanta o mau desempenho de nossos alunos em provas de ciências, matemática e português. Mas não se pode deixar também de reconhecer um mérito: ter os números é fundamental para enfrentar esse desafio. Só avança o país que conhece as suas chagas. Esse é o tema da entrevista com o ministro da Educação, Fernando Haddad.

Bom Dia Brasil – Foi um resultado que chocou o país, mas é fundamental ter esses números, saber que estamos no fim da fila entre 57 nações. Qual ação imediata para consertar isso?

Fernando Haddad – As decisões têm que ser tomadas agora e estão sendo tomadas. Mas os resultados virão no médio e longo prazo, porque em educação não se colhe os frutos no prazo de um mandato. Portanto, não pode ser uma tarefa de um partido político ou de um governo, é uma tarefa nacional. Os dados não devem nos orgulhar, mas não devem nos envergonhar. Dos países analisados, somos um dos países com menos renda per capita, com um dos mais baixos indicadores de distribuição de renda e investimento por aluno. Estamos nos comparando com países ricos. Se tomarmos o contexto latino-americano, vamos ver que estamos muito próximos de países como Colômbia e Argentina – este, um país com tradição na área de educação muito maior que a nossa. Temos que ter cautela. Entendo que esse pacto que está sendo feito em torno da educação entre governos estaduais e municipais vai se refletir em indicadores.

Há um estudo do Ipea que mostra a redução do número de alunos concluindo o Ensino Médio. Desde meados da década de 1990, o número crescia, mas cai a partir de 2002. Era esperada uma alta, como aumentou a inclusão no Ensino Fundamental, mas não foi o que aconteceu. Houve queda de 300 mil alunos. Estamos regredindo no Ensino Médio?

Não. A taxa de atendimento dos alunos entre 15 e 17 anos, a faixa do Ensino Médio, está estacionária. O que acontece é que as taxas de aprovação da 5ª a 8ª série não estão reagindo adequadamente. Temos um avanço nos anos iniciais do Ensino Fundamental tanto em desempenho como em rendimento. Fluxo e exames nacionais. Mas nos anos finais do Ensino Médio o reflexo ainda não chegou. Da 8ª série para o 1º ano do Ensino Médio está havendo uma retenção. Como a democracia joga a favor da queda das matrículas, porque os nascimentos são, cada vez, em menor número, se não houver uma correção de fluxo, a matrícula tende a estacionar ou até cair.

Na sua opinião, como a má formação dos professores influenciou nesse resultado?

Penso que essa é a principal variável a ser enfrentada no próximo período. Nós, na minha opinião, de maneira equivocada, transferimos a responsabilidade pela formação de professores para estados e municípios, pela Lei de Diretrizes e Bases de 1996, quando deveria ser atribuição da União, em virtude do fato de ela manter um parque enorme de universidades federais. O que queremos agora, por parte das universidades federais, é que elas assumam, com apoio financeiro do ministério da Educação, uma maior responsabilidade pela formação inicial e continuada do magistério.

O senhor disse que um país não colhe os frutos no prazo de um mandato. Mas o Chile vem apresentando resultado excepcionais e vem se distanciando cada vez mais de países latino-americanos como o Brasil. O que podemos aprender com esse exemplo?

O Chile, na verdade, está colhendo os resultados 15 anos depois da reforma educacional. O que houve no Chile foi perseverança, persistência, insistência nas reformas educacionais que começaram em 1991, com a ‘Concertación’. Quando todos davam o Chile como um caso de fracasso, ou seja, muito investimento, muito empenho, muita reforma e pouco resultado, os resultados começaram a aparecer 15 anos depois. Temos que seguir o exemplo de países como Irlanda, Coréia, Chile, que pactuaram um acordo nacional, insistiram e perceberam que o investimento pode até demorar, mas quando chega, emancipa um país.

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