Formação de professores é prioridade

UnB Agência, 11/12/07

Camila Rabelo

MEC aposta nas universidades federais para a qualificação dos docentes, mas baixos salários são empecilhos para a carreira

As 33 instituições com propostas aprovadas no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) – iniciativa do Ministério da Educação (MEC) – vão oferecer 4,5 mil novas vagas em cursos de licenciatura em 2008. Estima-se ainda que esse número triplique nos dois anos seguintes. O esforço das universidades ao abraçar os programas do governo vai ao encontro da carência de professores na rede pública que, no ensino médio, já chega a 265 mil docentes, e da qualificação deles.

“Apostamos na excelência das universidades públicas e na parceria entre o sistema federal e estadual para lançarmos novas bases para o ensino”, afirma o ministro da Educação, Fernando Haddad. Ele participou na manhã de terça-feira, 11 de dezembro, da primeira mesa de debates do seminário Carência de Professores na Educação Básica: dignóstico e proposta. Organizado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o encontro segue até quarta-feira, dia 12, no Hotel Nacional, em Brasília.

SALÁRIOS – Em reposta às preocupações dos dirigentes das universidades sobre os altos índices de evasão nos cursos de licenciatura, Haddad adianta que, além da expansão dos programas de assistência estudantil, o MEC pretende instituir bolsas de iniciação a licenciatura, cujo investimento em 2008 será de R$ 15 mil. Mas o presidente da Andifes, Arquimedes Diógenes Ciloni, acredita que os esforços do governo federal devem extrapolar a formação e qualificação de professores no Brasil. “Precisamos atrair os jovens para a carreira, mediante melhores salários. Isso não cabe às universidades”, ressalta.

Com a pouca atratividade da carreira docente, o reitor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Oswaldo Baptista Duarte Filho, alerta que o empenho na formação de professores poderá se voltar para a iniciativa privada: “Enquanto o salário for mil reais, não vai ter professor. Vamos formar os melhores da área, mas eles vão trabalhar nas escolas particulares. Corremos o risco de dobrar o número de professores formados e a situação continuar a mesma”.

Para ele, essa questão só será resolvida com mais recursos. Os investimentos em educação representam hoje cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB). “Se continuarmos mantendo esse patamar, a educação se desenvolverá muito vagarosamente. O país tem necessidade de uma velocidade maior”, critica. Mas o ministro Haddad defende que o índice já traz avanços e deverá chegar a quase 5% em 2010. “Não considero trivial o que conseguimos em 2007. As verbas não serão suficientes sem um preparo da rede e dos gestores”, diz.

Educação básica pede socorro

A Secretaria de Educação de Goiás, Milca Severino, relatou na manhã de terça-feira, dia 11 de dezembro, durante o seminário a Carência de Professores na Educação Básica: dignóstico e proposta, a situação crítica das escolas públicas do estado: violência, estrutura física precária, transporte escolar inexistente, professores despreparados. “Uma vez autorizei a compra de um jumento, pois era a única forma de se chegar em uma escola no interior do estado”, conta. Sobre o despreparo dos professores, ela diz que não se trata apenas da falta de conteúdo acadêmico, mas também cultural. “Encontro professores que nunca foram ao cinema”, revela.

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