“Somente por meio da educação seremos um país desenvolvido e igualitário”

A afirmação é do ex-presidente da Andifes e ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Mozart Neves Ramos. O professor esteve à frente da UFPE de 1995 a 2003, atuando como presidente da Associação na gestão 2002/2003. Atualmente, é diretor-executivo do Movimento Todos pela Educação, projeto que busca a mobilização nacional para que todas as crianças e jovens tenham acesso à educação de qualidade.

Em entrevista ao Portal Andifes, o professor Mozart Ramos aborda o importante papel das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) na melhoria da educação básica, demonstra o que representa o Movimento Todos pela Educação e traça algumas metas a serem atingidas ao longo dos próximos anos para aumentar o acesso das crianças e jovens à escola e a qualidade da educação brasileira.

Portal Andifes – Em sua opinião, quais os maiores desafios que o Brasil enfrenta hoje em relação à educação?

Professor Mozart – Na última década, e em grande parte graças ao Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério), a Educação brasileira avançou significativamente no que diz respeito à universalização do Ensino Fundamental. Mas não conseguiu avançar na qualidade. O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), indicador recentemente criado pelo Ministério da Educação (MEC), mostra claramente isso. O Brasil possui um IDEB no Ensino Fundamental 1 e 2 de 3,5 e 3,4, respectivamente, enquanto em países desenvolvidos esse índice equivale a 6,0.

O Brasil investe muito pouco na sua Educação Básica, cerca de U$ 944,00, enquanto os nossos vizinhos (Argentina, Chile e México) investem cerca de U$ 2.000,00, os países europeus cerca de U$ 7.000,00 e os EUA cerca de U$ 9.000,00 por aluno/ano. O Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), recentemente aprovado no Congresso, melhora o quadro, mas não resolve nem de longe esse problema. O país passará de 3,5% investido na educação básica para 3,8% quando este novo fundo estiver funcionando plenamente. O Todos Pela Educação defende que esse percentual chegue a 5% para a Educação Básica.

E não basta investir mais. O Brasil precisa também melhorar a gestão escolar, profissionalizar a gestão e qualificar os gestores públicos de nossas escolas. Sem isso, não adianta colocar mais dinheiro.

Finalmente, é preciso ter um projeto de Nação para a Educação e não apenas de governo, e o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) pode ser um belo início para que isso se torne realidade.

Portal Andifes – O movimento Todos pela Educação surgiu a partir dessas demandas da sociedade? O que é o projeto, especificamente?

Professor Mozart – Há uma demanda crescente da sociedade como um todo por Educação de qualidade do Brasil, pois é cada vez maior a consciência de que somente por meio da Educação seremos um País mais desenvolvido e, principalmente, mais igualitário. Refletindo esse momento, surgiu o Todos Pela Educação (TPE). Trata-se de uma aliança multisetorial entre iniciativa privada, organizações sociais, educadores e gestores públicos de Educação com o objetivo garantir uma Educação Básica de qualidade para todos os brasileiros até 2022, bicentenário da Independência do País.

Portal Andifes – De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), 97% dos estudantes conseguem ingressar no Ensino Fundamental, mas apenas 52% destes o concluem. O Saeb de 2003 demonstra que somente 4,8% dos alunos da quarta série do Ensino Fundamental estão plenamente alfabetizados. Partindo-se destes dados, quais metas devem ser alcançadas para mudar esse cenário? Qual o prazo para que elas sejam atingidas?

Professor Mozart – Para alcançar a Educação de qualidade de que o Brasil precisa, que é o objetivo maior do Todos Pela Educação, foram definidas 5 Metas específicas, compreensíveis e focadas em resultados mensuráveis. Essas metas devem ser alcançadas até 2002, bicentenário da Independência.

Meta 1. Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola.
Meta 2. Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos.
Meta 3. Todo aluno com aprendizado adequado a sua série.
Meta 4. Todo aluno com o Ensino Médio concluído até os 19 anos.
Meta 5. Investimento em Educação ampliado e bem gerido.

Como se pode observar nas Metas, a preocupação do Todos Pela Educação vai além de acesso ao ensino (expresso na Meta 1). Queremos ver todas as crianças na escola, e aprendendo o que deve ser aprendido, na idade adequada (e isso está expresso nas metas 2, 3 e 4)

Portal Andifes – Quem faz parte do movimento Todos pela Educação?

Professor Mozart – Representantes da sociedade civil, da iniciativa privada, organizações sociais, educadores e gestores públicos de Educação.

É importante ressaltar que o Todos Pela Educação não é um projeto de uma organização específica; é um projeto de Nação. É uma união de esforços, em que cada cidadão ou instituição é co-responsável e se mobiliza, em sua área de atuação, para que todas as crianças e jovens tenham acesso a uma Educação de qualidade.

A melhoria da educação está diretamente vinculada às políticas públicas adotadas pelos governos nas suas três esferas de atuação (federal, estadual e municipal). No entanto, os países que obtiveram resultados significativos na melhoria da qualidade da educação o fizeram em parceria com a sociedade civil, por meio de empresas, ONGs e outras instituições ligadas à educação.

Portal Andifes – Como a sociedade brasileira pode se mobilizar e ajudar a mudar o cenário da educação no País?

Professor Mozart – Como eu disse, somente com a co-responsabilização de toda a sociedade é possível promover o salto de qualidade que a Educação brasileira precisa.
O esforço coletivo começa pelo cidadão, em sua atuação diária na família e na comunidade. Valorizar o ensino e aprendizado e cuidar para que as crianças da família e da comunidade estejam na escola, com bom aproveitamento, é o primeiro passo.

Esse esforço deve se estender a toda a sociedade civil, por meio de suas organizações, instituições e empresas. As empresas podem participar investimento recursos em atividades sociais, e também acompanhando metas e cobrando resultados na Educação.

Portal Andifes – Qual o papel das IFES na melhoria da educação básica?

Professor Mozart – Acredito que as IFES tenham um papel estratégico na melhoria da qualidade da Educação Básica, não só porque promovem a formação inicial e continuada dos professores para esse nível de ensino, mas porque representam uma rede articulada em todo o território nacional.

Entretanto, acredito que esse papel precisa ser intensificado, ele ainda é muito tímido, especialmente na formação inicial de professores nas áreas de química, física, matemática e biologia. Além disso, acredito que no contexto do Plano de Desenvolvimento da Educação, as IFES podem exercer uma ação de acompanhamento das metas municipais para melhorar os seus Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), e isso poderia ser realizado pelas Pró-Reitorias de Extensão, cumprindo uma belíssima ação de articulação com a sociedade civil em prol da melhoria da educação básica. Tenho observado que a ANDIFES está procurando ampliar esse papel com a força da liderança de sua presidência.

(Lilian Saldanha – Assessoria de Comunicação da Andifes)

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