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Dicas de Português: Customizar, Fulcrar, Ociar

Há alguns anos era um espanto o uso dos verbos customizar, fulcrar, ociar, pois eles tinham começado a circular na língua portuguesa havia pouco tempo, assim como outros que veremos a seguir. Isso significa um enriquecimento do idioma, para algumas pessoas, para outras, trata-se de um abuso.

 

– Qual o significado da palavra customização?

 

Customização tem o sentido de adaptar os produtos e processos ao gosto do cliente, fazer do que jeito que ele deseja; é, portanto, o atendimento que visa à satisfação do freguês. Em suma: personalizar . A origem da palavra está no inglês “customer”, que significa “cliente”.

 

– Tenho visto em textos jurídicos as palavras fulcrado e elencado sendo utilizadas com frequência. É correto este uso? Exemplos: as garantias elencadas no art. 5º da Constituição Federal; as limitações fulcradas no dispositivo tal.

 

O verbo elencar tem o aval do VOLP 2009 (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 5ª ed.) e significa incluir num rol, lista ou elenco. Já fulcrar [calcar, apoiar] é verbo de uso raro. Sua origem é o substantivo fulcro = ponto de apoio; sustentáculo, base; parte essencial ou mais importante; ponto básico; cerne. Quanto ao particípio fulcrado, emprega-se como alternativa para “baseado, fundamentado; com base ou fundamento em”.

 

– Será que eu poderia ter uma lista das palavras oriundas do inglês e que se referem à informática que estão sendo usadas correntemente, como “linkar”, por exemplo.

 

Assim como muitos termos da área da informática são usados em bom português – configurar, arquivar, responder, formatar, imprimir, fechar –, outros continuam transitando, aqui no Brasil, em inglês mesmo (por ex. link, hiperlink, mouse, download, chat, backup ). E outros, como delete , ainda que tenham equivalentes em português, receberam formas adaptadas que são preferidas pelo público. Vejamos então alguns verbos que sobrevivem com sua forma aportuguesada:

 
Atachar – o mesmo que anexar; fazer o envio de um arquivo como anexo.

Clicar – apertar e soltar o botão do mause ( mouse ).

Deletar – apagar, limpar, remover.

Escanear – digitalizar imagens por meio de scanner, aparelho de leitura óptica.

Inicializar (em vez de “iniciar”) – pôr na configuração ou posição inicial.

Lincar (com c , e não k ) – fazer as ligações ou clicar nos linques ( links ) presentes num hipertexto.

Postar – fazer um “post”, ou seja, escrever e enviar um artigo para um grupo de notícias ou mensagens públicas.

Surfar – o mesmo que navegar, passear pela internet. O termo navegar surgiu pelo fato de ter sido o Netscape Navigator o primeiro programa que possibilitou acessar e visualizar os recursos da rede www – a web .

Zipar – compactar (arquivo) para armazenamento de dados ou transmissão via rede.
 
Fonte: www.linguabrasil.com.br (com adaptações)

Paulo Roberto Ribeiro

Ascom UFLA

Dicas de Português: A selfie ou o selfie?

A palavra selfie está relacionada ao ato de tirar fotos de si mesmo, ou seja, corresponde ao termo autorretrato. Normalmente uma selfie é tirada pela própria pessoa que aparece na foto, com um celular que possua câmera incorporada. Todavia, a selfie pode ser realizada com um grupo de amigos ou mesmo com celebridades. O termo selfie, cuja origem é inglesa, teve entrada no vocabulário de língua portuguesa em virtude do seu largo emprego nas redes sociais.

A força de uso do vocábulo selfie justifica a sua inclusão no dicionário como nome do gênero feminino. Verifica-se, no entanto, que ainda há alguma hesitação na fixação do gênero, podendo ocorrer também no masculino. O uso ditará o gênero que irá prevalecer, mas a palavra classifica-se, por enquanto, na categoria de nome feminino, porque se subentende, de uma forma generalizada, como uma especificação do termo “fotografia”.

Adaptado de: www.portoeditora.pt

Fonte: www.soportugues.com.br

Paulo Roberto Ribeiro – ASCOM

Dicas de Português: Maiúsculas – logradouros, cargos, documentos

Qual a forma correta de escrever o nome de ruas? Usamos as letras maiúsculas ou minúsculas?

 
As normas oficiais (de 1943 e Acordo Ortográfico 2009) deixam à escolha do redator o uso de inicial minúscula ou maiúscula na denominação ou categorização de logradouros públicos, templos e edifícios. Nessa condição, ninguém está errado, nem quem escreve rua, país, exterior, município, comarca, português, ciências, matemática, por exemplo, nem quem adota maiúsculas nos mesmos casos: Rua, Praça, Bairro, País, Exterior, Município, Comarca, Português, Ciências, Matemática.

 
O que se pode observar é uma tendência ao uso das minúsculas quando a inicial maiúscula não é obrigatória (a maiúscula é obrigatória no caso de nomes próprios e no início da frase, para citar as regras básicas). Então, no momento em que se trata de ruas, praças e avenidas, somente o nome delas precisa ser grafado com inicial maiúscula. A indicação do tipo pode vir de uma ou outra maneira. Exemplos:

 
Mora na rua Treze de Maio.

Mora na Rua Frei Caneca.

Mora na Avenida das Rendeiras.

O escritório se localiza na praça “D. Tilinha”.

O escritório fica perto da Praça do Congresso.

 
CARGOS

Uso mais informal, em revistas e jornais:
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o governador Fulano de Tal; a prefeita Ângela Silva; o papa Bento XVI; o príncipe Charles; a rainha Elizabeth; o duque de Caxias; o ministro de Minas e Energia; o diretor da Receita Federal; o chefe do Gabinete Civil; o deputado Gegê.

 
Uso mais formal, em documentos, correspondência oficial, escritos científicos:
O Presidente da República; o Governador Fulano de Tal; a Prefeita Ângela Silva; o Papa Bento XVI; o Duque de Caxias; o Ministro de Minas e Energia; o Diretor da Receita Federal; o Chefe do Gabinete Civil; o Deputado Gegê; o Juiz, o Magistrado…

 

DOCUMENTOS E AFINS

O fato de vir o número junto do nome do documento e assim individualizá-lo sugere o uso de inicial maiúscula; mas novamente, por serem graficamente menos chamativas, as minúsculas estão sendo muito usadas, à exceção das siglas e abreviaturas (CPF, R.G. nº 000).

 
Opções: ou ofício nº 1, carteira de identidade nº 1, título de eleitor nº 1, ação de inconstitucionalidade nº 1, ou Título de Eleitor nº 1, Registro Geral nº 1, Ofício Circular nº 1, Mandado de Segurança nº 1, Agravo de Instrumento nº 1.

 
Fonte: www.linguabrasil.com.br

Paulo Roberto Ribeiro – Ascom

Dicas de Português: Curiosidades

Estada/Estadia     SPA   ioga/yoga

— A palavra correta é estada ou estadia quando você quer dizer a permanência em um hotel ou outro lugar?

 
Tanto faz. Já se foi o tempo em que era rigorosa a distinção entre os dois termos: estadia era só para navio, estada para os demais casos. Mas, até por uma questão de eufonia, passou-se a usar estadia para qualquer tipo de permanência, de carro em estacionamento a pessoa em hotel. Finalmente, eis que o dicionário Houaiss avaliza o uso corrente:

 
ESTADA é o ato de estar, de permanecer em algum lugar:

 
Durante a sua estada no poder, o Presidente fez várias viagens ao exterior.

ESTADIA significa “permanência, estada por tempo determinado”; ou período de tempo autorizado de um navio mercante num porto, o mesmo que estalia. Exemplos:

 
A Secretaria a Saúde vai custear sua estadia em Curitiba durante o curso.

— Há vários anos, tenho tentado, através de leitura, indagações e consultas variadas, saber o que significam as letras de SPA. Um sem-número de pessoas pronunciam e repetem spa’s e nunca mencionam o significado das letras. Você poderia desvendar-me esse mistério?

 
SPA é o nome que se dá a uma estância hidromineral, hotel distante das cidades ou grande estabelecimento comercial que oferece um tratamento integrado de saúde e beleza. Essa designação é comumente associada à cidade de Spa, antiga e famosa estância hidromineral localizada no leste da Bélgica. As três letras são as iniciais da expressão latina “Salutae Per Aquam”, que quer dizer “saúde ou cura pela água”. Observe o plural sem apóstrofo:

 
Fagundes conseguiu voltar à boa forma depois da permanência de três dias num spa.

— Gostaria de saber se a palavra yoga ou ioga é usada no feminino ou masculino? Devo acentuá-la (yôga) como já vi? E qual a pronúncia correta?

 
Em português a palavra é feminina e escrita com i. Sua pronúncia pode ser aberta /ióga/, pela nossa tendência a pronunciar o ó aberto, ou fechada /iôga/, como sabe todo bom praticante iogue, por causa de sua origem no sânscrito, língua em que não ocorre o som aberto ó. Também é a etimologia que explica a grafia com y e o uso de o yoga, pois as palavras sânscritas terminadas em a geralmente pertencem ao gênero masculino.

 
Resumindo: em português brasileiro se diz a ioga; em “português-sânscrito”, o yoga (sem necessidade de se colocar o acento circunflexo informativo da pronúncia).

 

Ioga quer dizer “união”. Em sânscrito, yoga era palavra também utilizada para designar a canga ou jugo de madeira usado para prender uma junta de bois. Daí o significado de união: da natureza com o Espírito, do humano com o Absoluto, da alma com Deus.

 

Fonte: www.linguabrasil.com.br

Paulo Roberto Ribeiro – Ascom

Dicas de Português: Concordância no feminino

Muitas pessoas me perguntam se o feminino de técnico administrativo é técnica administrativa ou técnica administrativo ou ainda se é a técnico administrativo.

Trata-se agora da flexão do adjetivo que acompanha os substantivos comuns-de-dois, ou comuns de dois gêneros. “Administrativo” é um adjetivo, variável em gênero e número. Consequentemente, deve concordar com o substantivo feminino que se refere a uma mulher: a gerente administrativa, a auxiliar administrativa. Dizer *a gerente administrativo seria tão anômalo quanto *a juíza adjunto ou *a diretora-secretário.

Outros bons exemplos de cargos femininos:

a secretária executiva

a secretária adjunta

a presidente adjunta

a chefe auxiliar

a assessora especial

a consultora geral

a juíza substituta

a gerente financeira

a auxiliar técnica

a técnica administrativa

a diretora-secretária

a diretora-presidente

a ministra-chefe.

 

Enfim, se uma mulher ocupa o cargo de prefeito ou de técnico judiciário, por exemplo, ela se torna prefeita, ou técnica judiciária, e assim por diante.

 

Fonte: www.linguabrasil.com.br

Paulo Roberto Ribeiro – Ascom

 

Dicas de Português: Crase e Numerais

Embora o fenômeno da crase tenha a ver basicamente com a classe dos substantivos, muitas pessoas perguntam se ocorre crase diante dos numerais cardinais. Respondo que normalmente não, porque eles são usados sem artigo definido e não têm gênero (exceto um e dois e os terminados em – entos : uma, duas, duzentas, trezentas etc.). Observe:
 
Contemos de 1 a 20: um, dois, três, quatro…

Li 10 páginas apenas.

Há 100 cavalos em exposição.

Compramos cinco mesas e 30 cadeiras.
 
Outras vezes se poderá encontrar na frente do numeral um a , que não será acentuado por se tratar de mera preposição:

Lombada a 100 metros.

Posto de emergência a três quadras daqui.

Dirigiu-se a duas crianças.

Chegou-se a 12 propostas.
 
Vale lembrar que à/às só tem cabimento diante de substantivos femininos que admitem a anteposição do artigo definido. No entanto, poderemos visualizar uma crase – correta – antes do numeral em duas circunstâncias:
 
1) quando houver, subentendido diante do numeral, um substantivo feminino definido, que não se repete por questão de estilo:

Li da página 1 à 10. [da página 1 à página 10]

Caminhou da rua Augusta à 7 de Setembro. [da rua Augusta à rua 7]  

 
2) quando houver explicitamente junto ao numeral um substantivo feminino determinado (do qual o numeral é apenas um dos determinativos):

Dirigiu-se às duas crianças abandonadas .

Servem café da manhã grátis às dez primeiras pessoas que aparecem no hotel.

Chegou-se, dessa forma, às 12 propostas descritas no memorial.
 

Como se vê, a crase aí está relacionada não ao numeral mas ao substantivo determinado: as crianças abandonadas, as primeiras pessoas que aparecem, as propostas descritas . Mudando-se esse substantivo para um equivalente masculino, temos aos em vez de às :

Dirigiu-se aos dois meninos abandonados.

Servem café da manhã grátis aos dez primeiros indivíduos que aparecem.

Chegou-se, dessa forma, aos 12 projetos descritos no memorial.
 
Fonte: www.linguabrasil.com.br

Paulo Roberto Ribeiro – ASCOM

Dicas de Português: Sete grandes “pecados” da crase

PECADO NÚMERO 1

“Ela viajou à convite do governador.”

Afora o caso em que se subentende a palavra “moda” (Governa à [moda de] Maquiavel), não há crase antes de palavras masculinas.

“Convite” é nome masculino: “o” convite.

Por isso, “Ela viajou a convite do governador”, sem crase.

PECADO NÚMERO 2

“Lula está se dedicando à reeleger Dilma.”

Não há crase antes de verbo.

“Reeleger” é verbo.

Logo, “Lula está se dedicando a reeleger Dilma”.

PECADO NÚMERO 3

“O diretor se referiu à ela.”

Não há crase antes dos pronome pessoais, inclusive os femininos.

Motivo: esses pronomes rejeitam a anteposição de artigo.

Não se diz “A ela é bonita”, mas simplesmente “Ela é bonita”.

Assim, “O diretor se referiu a ela”.

PECADO NÚMERO 4

“O professor se dirigiu à você.”

“Ele se dirigiu à Vossa Excelência com muito respeito.”

Não se usa artigo antes de pronome de tratamento: “Você é muito linda”, e não “A você é muito bonita”; “Vossa Excelência está certa”, e não “A Vossa Excelência está certa.

Portanto, não ocorre crase em  “O professor se referiu a você” e “Ele se dirigiu a Vossa Excelência com muito respeito”.

Observação: Às vezes os pronomes “dona”, “senhora” e “senhorita” aceitam artigo, razão pela qual pode ocorrer crase no “a” que os precede.

PECADO NÚMERO 5

“Ele deixou as latas de tinta em frente à telas em branco.”

Não há crase no “a” no singular seguido de palavra no plural.

Assim, “Ele deixou as latas de tinta em frente a telas em branco”.

PECADO NÚMERO 6

“Nós trabalhamos de segunda à sexta.”

Só há crase na correlação “de… a…” quando a preposição “de” aparece combinada com artigo, como em “Funciona do meio-dia às 18 horas”.

De outra forma, nada de crase: “Nós trabalhamos de segunda a sexta”.

PECADO NÚMERO 7

“Ele se declarou à uma linda garota.”

Não ocorre crase antes da palavra “uma”, pois ela rejeita a anteposição do artigo “a”.

Diz-se “ela é uma garota bonita”, e não “ela é a uma garota bonita”.

Dessa forma, “Ele se declarou a uma garota bonita”.

Atenção! Quando “uma” for numeral, pode haver crase, principalmente se expressar hora.

É o que ocorre em “O jogo começa à uma em ponto”.

 

 

Fonte: www.portuguesnarede.com

Paulo Roberto Ribeiro – ASCOM

Dicas de Português: Crase com nomes próprios geográficos

Quando se trata de saber se diante dos nomes de cidades, estados e países se usa a ou à, fica valendo o mesmo princípio da determinação, qual seja: se o nome é feminino e pode ser precedido pelo artigo definido a, existe a possibilidade do uso do a craseado.

Cidades

Como regra, não se usa o acento indicativo de crase diante dos nomes de cidades, porque eles repelem o artigo definido, como se pode observar: Salvador é uma festa. Venho de Florianópolis. Ele mora em Curitiba. Estivemos em Vitória. Assim sendo, nada de crase:

Bem-vindos a Salvador.

Vamos a Blumenau.

Refiro-me a Imperatriz/MA.

Somente quando modificados por algum elemento restritivo ou qualificativo é que os nomes de cidade podem receber o artigo feminino e, portanto, a crase.

Bem-vindos à Florianópolis das 42 praias.

Fomos à bela Blumenau.

Refiro-me à Brasília dos excluídos, e não dos políticos endinheirados.

Estados

Em princípio, só dois estados brasileiros admitem a crase: a Bahia e a Paraíba. As demais unidades da Federação ou são nomes masculinos (o Amapá, o Acre, o Amazonas, o Ceará, o Espírito Santo, o Maranhão, o Mato Grosso do Sul, o Pará, o Paraná, o Piauí, o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Norte, o Rio Grande do Sul, o Tocantins) ou não são determinados por artigo (Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Roraima, Sergipe). Sendo assim:

Bem-vindos à Bahia.

Vamos à Paraíba e a Santa Catarina.

Esse patrimônio incalculável pertence a Goiás.

Refiro-me ao Rio Grande do Sul e ao Pará.

Países

A presença da crase diante de um nome de país depende de ser esse nome determinado ou não pelo artigo feminino A. Entre os países que levam artigo – e que constituem a maioria – alguns são masculinos (o Canadá, os Estados Unidos, o Japão, o Chile), outros femininos (a Rússia, a Venezuela, a Índia). Existem países que rejeitam o artigo, como Portugal, Israel, Angola, Moçambique, São Salvador. E há nomes que se usam tanto com o artigo quanto sem ele, principalmente quando regidos de preposição – os brasileiros preferem com o artigo; os portugueses, sem ele: na França/em França; da Itália/de Itália; na Espanha/em Espanha; da Inglaterra/de Inglaterra. O mesmo vale para o continente: da Europa/de Europa. Portanto, escrevemos:

Bem-vindos à Argentina.

Quanto à Europa, refiro-me à França, à Áustria e à Alemanha.

O presidente chegou à Inglaterra por volta do meio-dia, mas não foi a Londres.

Enviamos saudações à Colômbia.

 

Paulo Roberto Ribeiro – Ascom

Fonte: linguabrasil.com.br

Dicas de Português: Crase com nomes de mulheres

O acento indicativo de crase antes de nomes próprios de mulheres é tido como facultativo, pois se escreve “à” diante de alguns nomes femininos, mas não diante de outros. O que demarca nossa opção é a possibilidade de esse nome, principalmente o de batismo, ser anteposto por um artigo definido, o que lhe dá um tom de afetividade ou de familiaridade, indicando a pessoa como conhecida ou “de casa”. No Brasil, além disso, esse uso tem caráter regionalista – em algumas regiões, como Sul e Sudeste, é habitual: o Marcos, a Lea, a Joana. Isso quer dizer que, se você costuma empregar o artigo definido diante de um nome de mulher, pode usar o “a craseado” quando a situação pedir (ou seja, quando a expressão ou verbo diante do nome exigir a preposição a).

 

Assim, no caso de mulheres a quem se chama pelo nome de batismo, vale o uso regional. Se você diz: “Gosto de Beatriz. Penso em Rita”, não usará crase: Contei a Beatriz o que relatei a Rita. Mas se você diz: “Gosto da Beatriz. Penso na Rita”, escreverá: Contei à Beatriz o que relatei à Rita.

 

Já quando se faz referência a nome e sobrenome, tão somente a familiaridade é que vai determinar o uso do acento indicativo de crase:

 

1) a crase não ocorrerá se o nome da pessoa for mencionado formalmente, envolto em distinção, ou se tratar de personalidade pública, pois nessas circunstâncias o nome da pessoa, seja homem ou mulher, nunca é precedido de artigo definido:

 

Referiu-se a Rachel de Queiroz.  [cp. Gosta de Rachel de Queiroz]

 

Fizemos uma homenagem a Euclides da Cunha. [nunca “ao Euclides da Cunha”, pois gostamos de Euclides da Cunha]

 

2) a crase ocorrerá se, apesar do nome completo, a pessoa for referida com amizade, numa atmosfera afetiva. É muito comum este tipo de uso nos agradecimentos que se fazem em livros, teses e dissertações, situação que por sua formalidade e tipo de divulgação comporta o nome completo das pessoas homenageadas, embora possam ser da intimidade do autor. É importante que se mantenha a coerência: se o nome do homem é articulado [o, ao], também o da mulher deverá ser precedido de artigo [a, à].

Vejamos um exemplo real:

 

Desejo externar os meus agradecimentos

ao Dr. Alceu Lima, por sua contribuição nesta pesquisa;

ao Prof. Nilo Lima, pela dedicada orientação;

à Profa. Maria Lima e Silva, por sua amizade;

ao Renato Cruz e Sousa, pelo companheirismo;

à Rejane Silva e Silva, pela revisão.

 

Paulo Roberto Ribeiro – ASCOM

Fonte: www.linguabrasil.com.br

 

Dicas de Português: nenhum, qualquer, de modo algum, de modo nenhum

O pronome indefinido nenhum é a junção ou aglutinação de nem + um, havendo entre as duas formas, segundo Napoleão Mendes de Almeida, “diferença de energia de expressão” (Dicionário de Questões Vernáculas, SP: Caminho Suave, 1981:203). Continua ele:

 
“Dizendo: ‘Nenhum homem é capaz de fazer isso’ – demonstraremos, simplesmente, não haver, dentre os homens, quem possa fazer determinada coisa. Dizendo, porém: ‘Nem um homem é capaz de fazer isso’, indicaremos, explicitamente, não haver nem mesmo um homem, como se disséssemos não ser capaz disso não somente uma mulher mas nem sequer um homem. (…) ‘Nem um centavo tenho’ ( =Nem ao menos um centavo tenho – Não tenho um único centavo) – é expressão mais forte, mais expressiva que esta: ‘Nenhum centavo tenho’ ( =Tenho dinheiro, mas não tenho uma moeda de um centavo)”.

 
O normal, o mais comum é usar a forma contraída: Não consegui nenhum real. A forma analítica nem um se reserva para situações de ênfase, tanto é que neste caso se pode inserir um termo de apoio como “mesmo” ou “só”: Não conseguiu nem um real = Não conseguiu nem mesmo um real = Não conseguiu nem um só real.

 
Em resumo, podemos registrar que nenhum/a é usado com os seguintes significados:

 
1. Nem um/a (só): Nenhuma decisão da Conferência da Saúde do Trabalhador foi implementada.

2. Qualquer: Mais que em nenhum outro momento da história, a humanidade enfrenta encruzilhadas e desafios. Tomou o remédio mas não sentiu nenhuma melhora.

3. Nulo; inexistente: Considera-se poeta de nenhuma importância.

4. Nenhuma pessoa; ninguém: Convidaram todos os alunos, mas nenhum foi.

 
Tendo em vista as provas de concursos, que muitas vezes se apegam ao incomum e extraordinário, devo chamar a atenção para as formas flexionadas. Além do feminino nenhuma, existem os plurais nenhuns, nenhumas, que são praticamente desusados na linguagem de hoje. Por exemplo, em vez de “não lhe deu nenhumas garantias”, costuma-se dizer simplesmente “não lhe deu garantias”, ou então “não lhe deu nenhuma garantia”.

 
Lembra o Dic. Aurélio que esse pronome “às vezes aparece posposto ao substantivo: ‘Serviço nenhum José de Arimateia refugava’ (…)”.
A propósito dessa colocação, vejamos o uso de nenhum e algum em orações negativas, nas quais estes termos servem de reforço:

 
Não tenho orgulho algum disso.
Não tenho orgulho nenhum disso.
Não tenho nenhum orgulho disso.

Não vamos a nenhum lugar.
Não vamos a lugar nenhum.
Não vamos a lugar algum.

 
Observe que algum corresponde a nenhum quando posposto ao substantivo em frase onde apareça uma partícula negativa ou a preposição sem (p. ex.: Sem problema algum! Sem dúvida alguma!).

 
Outro detalhe: os gramáticos normativistas não admitem o uso de qualquer (indeterminação) com o significado de nenhum (negação). Apesar da “proibição”, já se tornou um hábito as pessoas falarem, por exemplo, “não vamos a qualquer lugar / não tenho qualquer problema / fez a conta sem qualquer erro” com o sentido negativo de “nenhum lugar, nenhum problema, nenhum erro”. Todavia, num texto escrito formal é sempre recomendável observar a norma.

 

Fonte: www.linguabrasil.com.br

Paulo Roberto Ribeiro – Ascom