MEC repassa R$ 6 milhões para programas de extensão

Portal MEC, 26/06/07

Instituições federais e estaduais de ensino superior de todo o país podem enviar à Secretaria de Educação Superior(SESu/MEC), até o próximo dia 25 de julho, propostas de desenvolvimento de programas e projetos no âmbito da extensão universitária. O edital foi publicado na semana passada no Diário Oficial da União.

De acordo com o documento serão aplicados R$ 6 milhões em recursos financeiros para o programa, sendo R$ 4,5 milhões para as instituições federais de ensino superior e R$ 1,5 milhão para as instituições estaduais de ensino superior.

Nesta edição do Programa de Apoio à Extensão Universitária (Proext) serão abordados temas como qualificação de professores que atuam no sistema educacional, educação de jovens e adultos, juventude e desenvolvimento social, geração de trabalho e renda em economia solidária, promoção da saúde e prevenção de doenças, atenção à pessoa idosa, à pessoa com deficiência e às populações indígenas e quilombolas.

As propostas encaminhadas pelas instituições de ensino deverão ter natureza acadêmica. Ou seja, entre outros requisitos, deverão ter impacto na formação do estudante a partir da existência de projeto didático-pedagógico com atribuição de créditos acadêmicos sob orientação de tutores; e relação com a sociedade, ao contribuir com políticas públicas prioritárias para o desenvolvimento regional e nacional.

Inscrições — A ficha de identificação e o modelo de proposta deverão ser encaminhados para o endereço eletrônico proext2007@mec.gov.br e para o Ministério da Educação. Os resultados serão divulgados a partir do dia 14 de agosto. Mais informações na página eletrônica da SESu.

Programa Colégio Doutoral Franco-Brasileiro recebe inscrições

Portal Capes, 26/06/07

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC) está com inscrições abertas, até 30 de junho, para o Programa Colégio Doutoral Franco Brasileiro (CDFB). O objetivo do programa, realizado em parceria com o Conselho de Presidentes de Universidades Francesas (CPU), é promover o intercâmbio de estudantes de doutorado brasileiros e franceses, visando à formação de recursos humanos de alto nível nos dois países, nas diversas áreas do conhecimento.

A responsável pelo programa junto à Capes, Jussara Pereira Prado, esclarece que o Programa CDFB tem alguns requisitos para os candidatos: “pelo lado brasileiro, terão preferência os cursos de doutorado avaliados pela Capes com nota igual ou superior a cinco. E pelo lado francês, a exigência é de que só podem participar as 37 instituições consorciadas com a CPU, que aparecem discriminadas no anexo do edital do programa.

O programa concede bolsas de estudos na modalidade doutorado-sanduíche em co-orientação ou co-tutela. No caso de co-tutela, o doutorando deverá permanecer na instituição de destino durante um período de no mínimo 12 e no máximo 18 meses, para ter o reconhecimento oficial dos títulos conferidos em ambos os países. No caso de co-orientação, esse período será de 12 meses, sem prorrogação, e o doutorando não terá garantido o reconhecimento, pela França, do título obtido no Brasil.

Requisitos – Matrícula em curso de doutorado no Brasil, avaliado pela Capes, total de créditos completados compatível com o programa de estudos e o projeto de pesquisa a ser desenvolvido no país destino, e dedicação integral às atividades acadêmicas, são alguns dos requisitos necessários aos candidatos. Os selecionados terão direito ao pagamento de passagens aéreas Brasil/França/Brasil, auxílio instalação, seguro saúde, e bolsa mensal de 1.100 euros. As atividades na França terão início em outubro. Para mais informações acesse o edital.

Campo continua recuperando renda

Depois de diversas quedas na renda do setor agrícola este ano, que se iniciou em janeiro e se propagou até abril, os indicadores da economia rural sinalizam uma melhora no campo nos dois últimos meses, ou seja, maio e junho. Conforme dados levantados pelo Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras (DAE/Ufla), por meio dos cálculos dos Índices de Preços Agrícolas, o índice que mede a renda do setor agropecuário teve uma recuperação nestes dois meses.

Em junho, o Índice de Preços Recebidos (IPR) pela venda dos produtos do setor rural teve aumento de 8,2%, puxado pelas cotações dos grãos, principalmente o café, que teve alta, para o produtor, de 10,0%. Em maio, o IPR já havia aumentado 1,18%. Contribuíram também para a melhoria da renda agrícola em junho, os preços pagos aos produtores de feijão, com alta de 3,4% e aos do milho, cuja valorização foi de 5,26%. Na contra-mão da alta média dos grãos, está o preço recebido pelo arroz, que caiu para o produtor 4,35% Entre os hortifrutigranjeiros, as maiores altas ficaram localizadas nas vendas da laranja, 21,43%; alho, 43,5%; mandioca, 30,43%; tomate, 27,69%; frango abatido, 21,74% e ovos, cuja alta foi de 6,18%. No caso do setor leiteiro, os pecuaristas receberam 12,66% a mais pela venda do leite fluido tipo C e 4,42% pelo leite tipo B.

Junho foi o mês em que os preços médios dos insumos agrícolas também estiveram em alta, mas abaixo dos preços agrícolas. O Índice de Preços Pagos (IPP) pelos insumos agropecuários ficou em 3,02%. Entre os 187 itens pesquisados, as maiores altas foram nos setores ligados a rações (5,09%), inseticidas (21,09%), formicidas (11,73%), vermífugos (6,52%) e animais de tração, cuja alta foi de 16,0%. As maiores quedas entre os insumos estão concentradas nas sementes e mudas (-7,43%), fungicidas (-5,73%) e bernicidas (-6,39%).

EXPOCAFÉ supera proposta de negócios e público

2007: R$ 112 milhões em negócios e 30 mil pessoas

2006: R$ 30 milhões em negócios e 26 mil pessoas
2005: R$ 20 milhões e 20 mil pessoas

Terminada a 10ª Edição da EXPOCAFÉ, realizada na Fazenda Experimental de Três Pontas/MG, numa promoção da UFLA – Universidade Federal de Lavras, em parceira com a Prefeitura de Três Pontas, EPAMIG, EMATER, IMA, Cooperativas COCATREL e UNICOOP e SEBRAE. A décima edição superou a proposta de público e negócios, surpreendendo os organizadores e expositores.

Com base na edição de 2006, onde a feira recebeu cerca de 26 mil pessoas e negócios de R$ 30 milhões, os organizadores se surpreenderam com a apuração final de R$ 112 milhões em negócios, para um público de 30 mil pessoas na edição que comemora os 10 anos da EXPOCAFÉ.

A RODADA DE NEGÓCIOS DO SEBRAE, sempre presente na feira, participou pela primeira vez com um estante próprio, sob a administração de Juliano Cornélio, da regional Varginha e contabilizou R$ 63 milhões em negócios. Criada para promover o intercâmbio de empresas de diversos segmentos e regiões brasileiras, a Rodada de Negócios permite a apresentação de produtos e serviços diretamente às empresas interessadas. As negociações entre vendedores e compradores são rápidas e objetivas. Durante a Rodada de Negócios da Cafeicultura, estiveram reunidos representantes da Central de Compras da Cooperativa Central dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais (Coccamig) e fornecedores de insumos. A Coccamig reúne 19 cooperativas que representam cerca de 20 mil produtores de café da região.

Os quase 200 estandes e expositores presentes na EXPOCAFÉ, também contabilizaram excelentes negócios, completando com mais R$ 49 milhões os resultados da feira.
A EXPOCAFÉ conservou sua nova tendência, a de intermediar assuntos, proporcionar debates, ensinar e formar novos interessados no agronegócio café. Em destaque durante as palestras, o prof. Lúcio Caldeira, autor do livro “A Guerra do Café” que proporcionou debates entre os participantes, em raro momento de reflexão de cafeicultores, produtores e empresários, no segundo dia da feira, sobre os problemas da cafeicultura nacional.

Aumento de espaço e estandes
Antes mesmo de terminar o evento, a grande maioria dos expositores já deixou garantido seu lugar no próximo evento, aproveitando a informação de que a organização deverá oferecer mais espaço e infra-estrutura para 2008.

O crescimento

O presidente da EXPOCAFÉ, prof. Nilson Salvador comemorou a 10ª edição afirmando que “não poderia haver presente melhor do que o resultado obtido durantes os três dias, sabendo que isso se reverte para o agronegócio, para os parceiros, para os empresários cafeicultores, que durante muito tempo aguardavam esse momento”.

A organização anunciou os números e comemorou em cerimônia simples, ao final da feira, reunindo os parceiros para a entrega de um troféu comemorativo da edição. Todos se comprometeram em agregar os pontos positivos e corrigir os negativos, tentando conservar o propósito do evento de ser um ponto de encontro dos cafeicultores e empreendedores, com grandes possibilidades de negócios, cultura e lazer.

EXPOCAFÉ/2008

Ao fim da edição 2007, a comissão organizadora e parceiros da feira começam a discutir os passos da próxima realização, que já está marcada para 18, 19 e 20 de junho de 2008, manutenção de espaço permanente para palestras e debates, onde todos os expositores terão oportunidade e palavra franca para suas manifestações e propostas; melhoria e incrementos na infra-estrutura do parque, como mais banheiros, alimentação, telefonia, internet e outros; inclusão de novos setores de entretenimentos, aumento nas dinâmicas de campo que, novamente obtiveram um número recorde de procura.
A EXPOCAFÉ recebeu visitantes e a imprensa de vários pontos do Brasil, além de oferecer cerca de 2.100 empregos diretos e indiretos durante o evento.

Mais detalhes e informações sobre esta edição e outras da EXPOCAFÉ: www.expocafé.com.br e mande sua opinião ou sugestão: expocafe@ufla.br

Os universitários de hoje

Correio Braziliense, 24/06/07

Priscilla Borges

Alunos de baixa renda entram mais nas universidades públicas

Os números do relatório ajudam a quebrar alguns mitos. O primeiro é o de que existem mais alunos pobres nas universidades privadas do que nas públicas. O estudo do Inep mostra justamente o contrário. Enquanto nas públicas 30,1% dos alunos possuem renda de até três salários mínimos, nas particulares, esse número é de 25,5%. Outro ponto interessante é a quantidade de egressos de escolas particulares e públicas que estão no ensino superior. Os números das públicas e das privadas é bem parecido: 49,1% dos universitários das públicas cursaram a educação básica em colégios públicos e, nas privadas, eles somam 52,2% (confira tabela).

Para Timothy Mulholland, reitor da UnB, é importante perceber que as classes menos favorecidas estão entrando nas instituições públicas. Ele acredita que os dados fornecidos pelo Enade devem ser fruto de pesquisas no futuro e serão importantes subsídios para tomada de decisões. A sinalização de que as universidades públicas carecem de investimento não é novidade. “Os dados ajudam a esclarecer e a comprovar a realidade. O que assegura a qualidade das instituições públicas é o investimento na qualificação dos recursos humanos”, destaca.

É interessante observar que algumas atitudes dos jovens mudaram ao longo do tempo. O interesse dos universitários pela internet cresceu muito nos últimos anos. Em 2002, a internet era o meio de comunicação preferido de apenas 9,5% dos estudantes. Agora, o número subiu para 42%. Talvez por isso o índice de leitura diária de jornais — de alunos de públicas e privadas — esteja tão baixo. Nas públicas, apenas 15% dos universitários lêem jornais todos os dias, enquanto nas privadas, 21,6% fazem o mesmo. Rafael Ayan, estudante de pedagogia, diz que prefere conferir as notícias diárias pela internet. Daniel Campos também não lê jornal e prefere assistir a noticiários na televisão.

Bons X ruins

O relatório do Inep também comparou os perfis dos estudantes que fazem cursos cujo desempenho foi excelente (notas 5 no conceito Enade e no IDD) e dos alunos de cursos considerados ruins (notas 1 nos dois conceitos). As graduações com desempenho melhor têm mais estudantes solteiros (88%), sem filhos (90%), renda familiar mensal mais alta (para 32% dos alunos é superior a 15 salários mínimos), os pais têm mais escolaridade, a maioria estudou em colégios particulares, dominam mais o idioma inglês, utilizam computador sempre e se atualizam pela internet (confira tabela).

Daniel cursa o 4º semestre de ciências contábeis da UnB e se encaixa em algumas das características. Os pais do jovem também têm diploma de curso superior, ele utiliza a internet e elogia a cobrança dos professores. Mas ele também trabalha e se sustenta sozinho, como 67% dos estudantes cujo curso é nota máxima. Nas graduações com desempenho ruim, mais alunos têm filhos, a renda mensal é menor (7% têm renda maior que 15 salários mínimos e 32% tem renda de até três salários mínimos), os pais têm menos escolaridade e a exigência dos professores é diferente.

Isabel Carvalho Paz, 42, esperou os filhos crescerem para encarar uma faculdade. Mesmo trabalhando, ela acabou de concluir o curso de letras na Faculdade Michelangelo, que tirou notas 1 no conceito Enade e no IDD. Mas ela não acredita que o desempenho ruim revele a qualidade do curso. Isabel diz que há muitos professores dedicados e alunos desinteressados. Para ela, os estudantes entram na faculdade sem uma boa base e não têm motivação para fazer a graduação.

Mais satisfeitos

Enquanto os estudantes das universidades públicas têm muito do que reclamar, os alunos de instituições particulares se mostram bem mais contentes com o que lhes é oferecido. Segundo o estudo do Inep, 63,4% deles dizem que as instalações físicas são amplas, arejadas e bem mobiliadas. A proporção de alunos que avalia positivamente o método de trabalho dos professores, a disposição dos currículos e a quantidade de equipamentos disponíveis também é maior do que nas públicas.

Os alunos do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Aloisio Antonio Menezes, 22, estudante do 8º semestre de direito, Carlos Andrés, 21, do 6º semestre de jornalismo, e Astir Fernandes do Valle, 40, do 9º semestre de biomedicina, garantem que não podem reclamar da estrutura da instituição. Para Astir, os laboratórios são bem equipados e os professores, atenciosos. Carlos e Aloisio elogiam o acervo da biblioteca e a qualidade dos professores. “Acho que temos mais voz e menos burocracia nas instituições privadas”, opina Carlos.

Aloisio trabalha em horário integral, mora com os pais e não tem filhos. Para ele, os estudantes das instituições públicas têm mais tempo para se dedicar aos estudos e levam vantagem no grande número de pesquisas realizadas dentro das universidades. “Mas as privadas estão correndo atrás disso também”, comenta. Para Astir, o vestibular dá vantagens às públicas porque seleciona estudantes com menos problemas na formação básica.

Por isso, Carlos não concorda com o Enade. Ele acredita que o melhor seria analisar o desempenho dos formados no mercado de trabalho. Rafael Ayan também afirma que o modelo da avaliação não mostra a realidade das faculdades.

Educar é medir, ter metas e cobrar

Revista Veja, Edição 2014

Camila Antunes e Marcos Todeschini

Novo indicador do MEC diz quanto cada escola do país deve progredir

Mede-se de tudo em sociedades modernas: do nível de riqueza do país aos hábitos à mesa de sua população. Indicadores ajudam a traçar cenários para a economia que orientam decisões em empresas e governos. Dados socioeconômicos dão contornos às políticas públicas. Até a década de 80, o Brasil era ainda um país pouco afeito a estatísticas, limitado a números produzidos a cada dez anos por meio dos censos. Sobre as escolas brasileiras, sabia-se que eram assoladas por taxas de repetência similares às de países africanos. E só.

Apenas em 1990 surgiu o primeiro medidor no país para aferir a qualidade da educação, o Saeb, seguido de uma leva de avaliações durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O governo Lula intensificou ainda mais as medições, o que permitiu, enfim, enxergar com precisão as deficiências em sala de aula em todos os níveis de ensino. Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) divulgou um novo ranking de escolas públicas de ensino fundamental – o mais completo já feito no país. É o mais recente dos medidores oficiais, o Ideb. Os especialistas o definem como um avanço em relação aos outros: ele não só mostra um panorama da educação brasileira como, pela primeira vez, estabelece metas objetivas para 46.000 escolas públicas do país. É um sistema de cobranças e incentivos. As escolas que superarem a meta receberão mais verbas. Resume o ministro Fernando Haddad: ‘O objetivo é fazê-las chegar em quinze anos ao padrão dos países desenvolvidos’.

O estímulo para que as escolas brasileiras elevem o nível vem em boa hora. O Ideb mostra que elas ainda estão a anos-luz da excelência. Eis o pior dado: a média geral, segundo o novo medidor, não passou de sofríveis 3,8 (numa escala de zero a 10). Raríssimas escolas da lista não tiraram nota vermelha na avaliação. Mais precisamente, 178 delas, solitárias ilhas de bom ensino que conseguiram cravar notas acima de 6 – a média da OCDE (organização que reúne países da Europa e os Estados Unidos). Sim: apenas 0,3% das escolas brasileiras oferta ensino de qualidade comparável ao que predomina nas salas de aula dos países mais ricos. Sobre elas, o levantamento do MEC traz um dado surpreendente: o melhor ensino público do país não aparece apenas nas escolas que recebem mais dinheiro do governo ou ficam nas maiores cidades do país, mas, também, naquelas sediadas em municípios mais pobres e menos conhecidos. Esse é o caso da metade das escolas que fugiram da zona de notas vermelhas, segundo o Ideb. O resultado ajuda a derrubar um velho mito, o de que só há bom ensino onde sobra dinheiro.

Ao revelar o mapa da excelência, o novo medidor do MEC também tem o mérito de jogar luz sobre práticas que levam ao sucesso escolar. A maioria delas não é mirabolante – tampouco é dispendiosa. As boas escolas, sobretudo as do interior, costumam enfrentar suas mazelas com o esforço de gente como Milena Ferreira, 26 anos, diretora do colégio Helena Borsetti, em Matão, no interior de São Paulo. É a terceira melhor do país, no ciclo de 1ª a 4ª série, segundo o Ideb. Para sanar a falta de uma biblioteca, Milena liderou na cidade um mutirão para arrecadar livros. O saldo: 800 volumes doados em uma semana. Eles ficam à disposição dos alunos em duas caixas de papelão. ‘As crianças amam ler’, orgulha-se a diretora. O exemplo de Matão ilustra uma idéia bastante propagada no mundo acadêmico: a de que diretores engajados às questões do ensino são a alma de uma boa escola. Um levantamento com as vinte campeãs no Ideb mostra que todas elas estão sob o comando de um diretor que está no cargo há pelo menos três anos. Nas outras escolas do país, a média é de um novo diretor por ano. Conclui Maria Helena Guimarães, secretária de Educação no Distrito Federal: ‘Educador bom é aquele que leva o trabalho às últimas conseqüências e se responsabiliza pelos resultados’.

O Ideb mostra, em suma, que bom ensino não depende de soluções mágicas, mas, sim, de empenho. Nas escolas campeãs, a equipe de educadores certamente trabalha mais (e queixa-se menos) do que a média nacional, os pais são mais entusiastas da rotina escolar e os estudantes passam mais tempo em sala de aula. Colégio número 1 no ranking de 1ª a 4ª série, o Ciep Guiomar Gonçalves Neves oferece há cinco anos período integral. A decisão de esticar a jornada de estudos foi tomada em conjunto com os pais (e não significou um centavo a mais à folha de pagamento). Os professores apenas seguiram com o estabelecido em contrato: quarenta horas semanais dedicadas ao colégio. A campeã está sediada em um dos vários cenários improváveis para a excelência acadêmica revelados pelo Ideb. Fica em Trajano de Morais, município de 10.000 habitantes a 250 quilômetros do Rio de Janeiro, onde se vive do cultivo de frutas e legumes. Os pais dos estudantes ganham em média dois salários mínimos por mês – e muitos não venceram as primeiras séries do ensino fundamental. Ainda assim, a escola consegue o feito de formar alunos com raro entusiasmo pelos estudos.

Um dos melhores da turma, o estudante Marco Aurélio do Amaral, de 12 anos, tem a reputação de prodígio da matemática e traduz o clima local: ‘As aulas são ótimas’. De novo, o Ideb remete à idéia do esforço para chegar ao bom ensino. Em escolas campeãs, como a de Marco Aurélio, os professores não só cultivam o hábito de preparar as aulas (básico, porém raro no país) como também estudam mais. Enquanto 32% dos professores brasileiros nunca pisaram numa universidade, nas vinte melhores escolas do país 92% têm diploma de graduação, sendo que 63% poliram seu currículo com uma especialização. Em alguns casos, o que os atrai às boas escolas é um fator meramente subjetivo: ‘Elas levam o ensino a sério’.

Noutros casos, essa elite de professores é motivada por meio de bons planos de carreira, como o do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp), campeão no ranking de 5ª a 8ª série. Tem-se lá um sistema raro – e de bom resultado. A cada nova especialização, os professores ganham aumento de salário e licença de até quatro anos para prosseguir com os estudos. Com esse tipo de política, o CAp segura em seus quadros profissionais como a professora Ana Lúcia Mayor, de 44 anos, doutora em literatura. ‘Aqui se valoriza o mérito.’ A professora pertence a uma minoria de escolas patrocinada pelo governo federal. Elas recebem quatro vezes mais dinheiro do que os outros colégios e emplacaram oito das vinte campeãs do novo ranking.

Um indicador como o Ideb não só contribui para divulgar os bons exemplos como também revela, para a maioria das más escolas, o abismo que as separa da excelência. O diagnóstico oficial deveria servir como ponto de partida para uma mudança nos rumos em sala de aula. O problema é que, no Brasil, medidores como o Ideb costumam passar em branco nas escolas – boas e ruins. Ao ouvir que o colégio municipal Esfinge, de Lauro de Freitas, na Bahia, havia aparecido em último lugar no ranking do MEC, com média 0,1 (sim, na mesma escala de zero a 10), Nailma dos Santos indagou: ‘Ideb? É um novo canal de televisão?’. Detalhe: Nailma é a diretora da escola. Ao ignorar a existência do novo indicador, ela também não levará em conta a meta estipulada pelo MEC para que sua escola suba de nível. Deveria. No fim do 3º ano do ensino fundamental, as crianças de lá ainda aprendem as primeiras sílabas.

A escola de Lauro de Freitas não é a única do estado no ranking das vinte piores do país: são ao todo dez escolas baianas na rabeira (o estado só ficou à frente de Alagoas). Outra que fracassou foi a estadual Celina Pinho, de Salvador. Em meio a uma greve de professores que já passou de um mês, a escola é palco de violência entre os estudantes – e de salas abandonadas. Questionado sobre o paradeiro da diretora, um aluno que havia decidido atender o telefone respondeu: ‘Foi passear’.

Os dois péssimos exemplos vindos da Bahia infelizmente não são os únicos revelados pelo MEC. O conjunto deles não deixa dúvida sobre a urgência de um medidor como o Ideb passar a ser levado a sério. A experiência mostra que indicadores do gênero têm sido ignorados no Brasil não apenas por desconhecimento mas, principalmente, pela aversão a levantamentos cujos dados permitem montar rankings, indicadores de quem está fazendo mais com o mesmo e até com menos. O discurso-padrão de professores e alunos que preferem boicotar as avaliações baseia-se na ladainha ideológica segundo a qual é ‘injusto’ comparar instituições egressas de realidades tão diferentes ou ‘humilhar’ as piores ao dar visibilidade a seus fracassos.

Esse discurso não cola mais. Eles ignoram o que há décadas se depreendeu da experiência internacional. Os rankings têm gerado em outros países uma saudável competição entre escolas e universidades – e servido como estímulo para que as piores elevem o nível das aulas. No Brasil, país lembrado como um dos melhores em avaliações do ensino, tem-se ainda efeito quase nulo dos vários indicadores disponíveis. ‘Até hoje, nenhum deles teve uso prático’, diz o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza. Espera-se que agora, com a cobrança de metas, as escolas passem a prestar mais atenção nos números. Elas serão reavaliadas a cada dois anos. Segundo o MEC, todas deverão chegar à nota 6, média do mundo desenvolvido, até 2022. O Ideb mostra que lhes resta, ainda, um longo caminho pela frente.

As várias medidas da educação

Além do novo Indice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o MEC aplica outras cinco avaliações para testar os estudantes e auferir a qualidade do ensino – em geral, péssima. Eis a lista

No Ensino Básico

IDEB (Indice de Desenvolvimento da Educação Básica)

O que é: um novo indicador que resulta do cruzamento das notas dos estudantes na Prova Brasil ou no Saeb com a taxa de aprovação dos alunos. Serve para medir a qualidade do ensino por escola, município e estado – e é o primeiro a estabelecer metas para sua melhoria.

ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio)

O que é: uma prova anual para medir o nível dos estudantes de escolas públicas e particulares ao fim do ciclo básico. Faz quem quer. Os alunos podem usar a nota no exame para pleitear bolsas universitárias no MEC e ingressar em 23% das faculdades

Prova Brasil

O que é: o único exame oficial que abrange alunos de 41000 escolas públicas de ensino fundamental do país. Com base no resultado dos estudantes, cada escola recebe uma nota e um lugar no ranking nacional

SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica)

O que é: prova aplicada a uma amostra de estudantes (definida por sorteio) de escolas públicas e particulares. O objetivo é mapear as deficiências gerais no ensino e as falhas específicas de estados e municípios

No Ensino Superior

ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes)

O que é: sucessor do Provão, o teste mede o nível de conhecimento de uma amostra de estudantes sorteada nos 13000 cursos de graduação do país, entre novatos e formandos. Com base no resultado, os cursos recebem uma nota que permite compará-los

SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior)

O que é: avaliação que confere notas às universidades com base no resultado do Enade e em outros dois critérios: a opinião de uma comissão de especialistas e a (bem mais subjetiva) auto-avaliação das instituições

Cartilha nota 10

Um levantamento sobre as vinte escolas campeãs no novo ranking do Ministério da Educação (MEC) ajuda a entender por que elas se tornaram raríssimas ilhas de excelência no ensino brasileiro

PROFESSORES COM CURSO SUPERIOR COMPLETO

Escolas campeãs: 92%
Média brasileira: 68%

JORNADA ESCOLAR

Escolas campeãs: 5 horas diárias
Média brasileira: 4 horas diárias

LEITURA OBRIGATÓRIA

Escolas campeãs: de 4 a 12 livros por ano
Média brasileira: a maioria das escolas não faz exigências de leitura

PERMANÊNCIA DO DIRETOR NO CARGO

Escolas campeãs: pelo menos 3 anos
Média brasileira: 1 ano

Escolaridade afeta diretamente o PIB

O Estado de São Paulo, 26/06/07

Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA

Em uma geração, País deixa de ganhar R$ 300 bilhões, o equivalente a 16% do Produto Interno Bruto, diz Banco Mundial

Habituados a ouvir dizer que a baixa escolaridade trava o desenvolvimento, os brasileiros têm agora um número calculado pelo Banco Mundial (Bird) que ajuda a provar o tamanho do estrago social e econômico.

Segundo o banco, o Produto Interno Bruto (PIB) do País deixa de crescer meio ponto porcentual por ano porque um grande contingente de jovens não consegue terminar a escola. Essa porcentagem significa que, em uma geração (40 anos, neste caso), o Brasil deixa de ganhar R$ 300 bilhões, o equivalente a 16% do Produto Interno Bruto.

O estrago e a conta estão no relatório “Jovens em Situação de Risco no Brasil”, divulgado ontem em Brasília. E os custos são muito mais amplos: violência, gravidez precoce, aids, desemprego, abuso de drogas e álcool. Os problemas que cercam os jovens em risco custam caro, tanto em despesas diretas do País quanto no que esse jovens deixam de produzir, para si e para o Brasil.

O diagnóstico do Banco Mundial é duro: “A baixa acumulação de capital humano permite antecipar uma futura geração que não será competitiva nem na região, nem no mundo”, diz o estudo. “Não apoiar os jovens é um custo alto para o País. É um grupo sobre o qual o governo tem de pensar mais”, disse a autora do estudo, Wendy Cunningham, economista sênior do Banco Mundial.

Apesar de uma certa evolução – os jovens brasileiros hoje têm, em média, 8,5 anos de estudo, um a mais do que a geração anterior -, a escolaridade no País é considerada baixa. O estudo mostra que o número de jovens que chegam ao ensino superior no Brasil é o menor da América Latina.

Ingrid Faria Adamo, de 18 anos, parou de estudar em março. Ela cursava o 3º ano do ensino médio noturno quando seu horário de trabalho foi alterado e ela passou a ter de permanecer na empresa de telemarketing até as 21 horas. Enquanto esperava sua transferência para o período matutino na escola, acabou conseguindo trocar novamente de turno no serviço. Ao informar a escola de que poderia voltar a estudar à noite, conta, o diretor disse que ela já havia perdido muitas aulas e provas e que deveria procurar um supletivo. “Ele praticamente me expulsou porque faltei duas semanas”, diz. Hoje, Ingrid – que trabalha desde os 15 anos – ainda procura uma vaga na Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo. “Eu gostava de estudar e quero muito fazer uma faculdade de Arquitetura.´

A CADEIA DA POBREZA

Os R$ 300 bilhões calculados pelo Banco Mundial referem-se diretamente a esse problema: se os jovens brasileiros que deixam a escola completassem apenas o nível de ensino seguinte ao que deixaram de fazer – se um jovem que deixa a escola na 8ª série do ensino fundamental, por exemplo, terminasse o ensino médio -, ele receberia um salário maior. Somados, esses salários (não recebidos) da geração que largou a escola somariam mais R$ 300 bilhões girando na economia nacional.

A pobreza faz com que todos os demais riscos aumentem. Jovens pobres abandonam mais cedo a escola, têm mais dificuldades de encontrar emprego, morrem mais cedo, envolvem-se mais com drogas e correm mais riscos de serem pais ainda muito cedo.

Entre os jovens mais pobres, a taxa de analfabetismo é três vezes a da média nacional. Os que trabalham com carteira assinada representam apenas 1/8 da média do País e 90% dos jovens desempregados vêm de famílias com renda inferior a dois salários mínimos.

De acordo com o Banco Mundial, o Brasil tem uma das menores taxas de desemprego entre jovens da América Latina. Mas, quando comparada com a dos adultos, é alta demais para um País com o nível de atividade econômica que o Brasil tem.

9,5 MILHÕES

O estudo não quantifica quantos jovens brasileiros poderiam ser considerados em situação de risco. O governo brasileiro trabalha com um grupo de 9,5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que estão fora da escola e desempregados. Desses, 4,5 milhões ainda não conseguiram completar nem mesmo o ensino fundamental.

“Esse é o público mais importante. Se atacarmos esses problemas, podemos alcançar os demais”, disse o secretário nacional de Política para a Juventude, Beto Cury. (Colaborou Renata Cafardo)

Gasto público ignora faixas etárias de grande risco

Os jovens entre 15 e 29 anos são hoje mais de um quarto da população brasileira. Somam 50 milhões de pessoas, mas os investimentos públicos nesse grupo representam só 0,6% do gasto social.

A maior parte dos gastos sociais, mostra o relatório do Banco Mundial “Jovens em Situação de Risco no Brasil”, são direcionados para as pessoas com mais de 60 anos, por meio das aposentadorias. Já o gasto com os jovens inclui as despesas com universidades públicas – um investimento que raramente chega a jovens em situação de risco.

“Quando se eliminam os gastos com ensino universitário – limitados a uma pequena parcela elitizada da população -, os gastos com jovens caem a quase 0% do total dos gastos sociais”, diz o relatório. “As duas faixas etárias nas quais os investimentos são os mais baixos são a primeira infância e a juventude, dois períodos cruciais para a prevenção de comportamentos de risco.”

O governo tem, no Orçamento de 2007, programas para a juventude que, somados, chegam a R$ 1 bilhão. De acordo com o secretário nacional de Políticas para a Juventude, Beto Cury, os dados usados pelo Banco Mundial são anteriores à criação da política nacional de juventude, que ampliou os programas e os investimentos na área. “Mas, claro, temos uma dívida anterior.”

De acordo com o relatório, o País tem hoje pouquíssima informação sobre os resultados dos programas para jovens. Faltam avaliação e integração. Hoje, os 20 programas para juventude estão divididos por 18 ministérios.

Aluno ainda é apontado como culpado por fracasso

O Estado de São Paulo, 26/06/07

Lisandra Paraguassú, Brasília

É o que mostra estudo realizado pela Unesco no País

Leia o relatório

A culpa é do aluno. Professores, pais, diretores, coordenadores e até o próprio estudante acreditam que, se a criança não aprende, a maior parte da culpa é dela mesma. Esse é o quadro que sai do estudo “Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever”, divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Com maior ou menor intensidade, a escola culpa o aluno e seus pais pelas deficiências na capacidade de ensinar.

“Pode-se afirmar que, se a escola deseja transferir a culpa pelo fracasso aos alunos, nisso consegue ter amplo êxito, pelo menos nas séries iniciais do ensino fundamental. Com maior freqüência, as falas atribuem a responsabilidade aos próprios discentes (alunos) e às suas famílias. Os pais não ajudam ou a criança não aproveita”, diz o documento. A medida para ser um bom aluno está no esforço e na disciplina em sala de aula.

A pesquisa da Unesco foi feita por amostragem em dez Estados, apenas em escolas públicas, com alunos da 4ª série do ensino fundamental. Há uma parte quantitativa, de questionários respondidos por alunos, professores, diretores e funcionários de cargos técnicos (coordenadores de área, pedagógicos, etc.) e outra qualitativa, com entrevistas, que incluíram também os pais dos estudantes.

Entre os professores, quase 40% consideram que, se um aluno não passa de ano, a culpa é dele mesmo. Outros 24% acreditam que a culpa é dos pais. Mas apenas 2% reconhecem algum tipo de responsabilidade. Cerca de um terço dos diretores e técnicos também considera que a culpa é do aluno, mas metade deles acredita que a escola é a verdadeira responsável.

“É uma carga tremenda para uma criança. Uma situação em que os adultos se eximem da culpa e a transferem para o lado mais fraco. Ela carrega a culpa por todo o fracasso. Desse jeito não se aprende, não se educa”, diz Cândido Gomes, um dos autores do estudo.

A cobrança vem também da família, que é cobrada pela escola. A maior parte dos professores também culpa pais e mães pelo fracasso escolar do filho e considera que não há participação suficiente ou, pelo menos, acha que o aluno não irá adiante porque a família não tem como ajudar. O estudo mostra, porém, que, na maioria dos casos, é na família que a criança encontra ajuda quando precisa. A escola aparece apenas em 4º lugar. “Essa cobrança está, muito freqüentemente, acima da realidade. Na verdade, a escola dá pouco apoio e é na família que a criança encontra ajuda”, comenta o pesquisador.

ESCOLA CHATA

A escola que aparece no estudo é chata, sem sentido e não consegue passar para seus estudantes o porquê de aprender a ler e escrever e, principalmente, de fazer aquelas tarefas. Nas entrevistas qualitativas, os alunos apontam como principal – e praticamente única – razão para estudar a necessidade de precisar da leitura para trabalhar.

Mais do que isso, não conseguem entender as tarefas que lhes são dadas na escola. Os exercícios de cópia, por exemplo, aparecem como um castigo: quando a turma está bagunçando, a professora dá cópias para fazerem. “O aluno com facilidade aprende. Para os outros, sobra a bagunça. Professores e estudantes não se entendem”, afirma Gomes.

É justamente como o estudante que se esforça para aprender e é disciplinado que o professor vê o bom aluno. Apesar de não considerar “obedecer ao professor” um dos quesitos principais, a tradução de “ser disciplinado” é, segundo o estudo, justamente não fazer bagunça.

Para o estudante, o perfil vai além: a criança acha que não deve fazer perguntas demais ou duvidar do professor. “O aluno tem de ser recebido com afeto e valorização; a escola tem de estar sintonizada com a realidade do aluno; a criança tem de saber por que está aprendendo. É um sistema que tem de mudar´, resume Gomes.

MEC cria Lei Rouanet da pesquisa

O Estado de São Paulo, 20/06/07

Renata Cafardo e Herton Escobar

Redução fiscal mais royalties serão dados a empresas que financiarem universidades e institutos públicos e privados

O governo federal deve lançar na próxima semana o edital de uma nova lei de incentivo à ciência e à tecnologia, que já ficou conhecida como a Lei Rouanet da pesquisa. Ela foi sancionada e publicada no Diário Oficial da União na sexta-feira e prevê, pela primeira vez, redução de impostos para empresas que investirem em projetos de inovação científica e tecnológica. A partir da publicação do edital, que ocorreria hoje, mas foi adiada, universidades e empresas já podem enviar suas propostas para aprovação do governo.

“Essa nova lei faz o que foi esquecido pela Lei de Inovação”, disse o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação (MEC), Jorge Almeida Guimarães. Ele se refere à norma aprovada em dezembro de 2004, que abriu caminho para parcerias entre instituições de pesquisa e empresas, mas não previa abatimento de impostos.

A nova lei permite que haja dedução de no mínimo metade e no máximo duas vezes e meia o valor investido na pesquisa. Essa redução de impostos será inversamente proporcional à participação da empresa na propriedade intelectual do produto decorrente da pesquisa. A empresa pode, por exemplo, escolher deduzir menos impostos e depois ganhar mais na repartição da patente. Ou, se não tiver interesse específico na tecnologia, pode abater até 250% do investimento em tributos, sem direito a patente.

A exemplo do que ocorre com projetos culturais na Lei Rouanet, só poderão se beneficiar projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que forem previamente aprovados por uma comissão formada pelo MEC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Ministério da Ciência e Tecnologia. Os projetos serão submetidos pelas instituições, mas já deverão vir acompanhados de uma proposta de investimento da empresa.

“Se tiver burocracia, será dentro da instituição. Aqui, garanto que tudo vai correr muito rápido”, disse Guimarães. Segundo ele, a publicação do edital só foi adiada para aguardar a posse do novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que deverá participar das decisões.

A lei se aplica a qualquer Instituição Científica e Tecnológica (ICT), como universidades (públicas e privadas), institutos e laboratórios – basicamente, qualquer instituição que faça pesquisa. Também não há restrições para empresas que queiram investir.

CRÍTICAS

O diretor-executivo da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), Olívio Ávila, criticou o fato de a lei incentivar mais investimentos em instituições públicas e não dentro da própria indústria, que deveria ser a prioridade do País.

“Vejo isso mais como uma lei de doação de recursos para universidades”, disse. “Temos de aumentar a competitividade tecnológica das empresas, que é o grande ponto fraco do Brasil. Qualquer coisa que desvie desse caminho está na contramão.”

A lei, segundo Ávila, “abre uma segunda torneira” para que empresas invistam em projetos sem importância tecnológica – apenas para obter o benefício fiscal -, em vez de canalizar recursos para projetos de interesse verdadeiro da indústria.

Outros especialistas temem burocracia excessiva para a aprovação de projetos e concessão de benefícios – processos que só serão definidos com a regulamentação do texto. “A lei tem excelentes intenções, mas vai esbarrar nos processos burocráticos que já conhecemos, especialmente no início”, advertiu Marcio Luiz de Andrade Netto, consultor do Instituto Uniemp – Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa.

“Muito vai depender da política normativa”, disse o diretor da Agência USP de Inovação, Oswaldo Massambani, da Universidade de São Paulo.

A educação na rede

Revista Isto É, Edição 1964

Francisco Alves Filho e Rodrigo Cardoso

Escolas e universidades aprimoram o ensino com estratégias como cursos online e aparelhos hi-tech nas salas de aula

O computador entrou de tal forma na rotina dos brasileiros que é difícil lembrar como nos correspondíamos antes dos emails. Um dos poucos setores que permanecem distantes das maravilhas tecnológicas foi a educação, justamente onde a inovação é mais necessária. Agora, em muitas salas do Brasil o domínio do giz começa a dar lugar à era digital. Importantes iniciativas públicas e privadas finalmente passam a utilizar o computador como ferramenta educativa e não mais como simples máquina de escrever modernizada. Pesquisa da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed) revela que o ano de 2006 foi fechado com cerca de 1,3 milhão de alunos aprendendo via internet.

Lousas eletrônicas e recursos de realidade virtual já são usados com ótimos resultados nas escolas particulares e o ensino público também ‘caiu’ na rede. Além disso, o Ministério da Educação (MEC) está investindo R$ 176 milhões para que a Universidade Aberta do Brasil crie até agosto 60 mil vagas para diversos cursos, todos online. Projeto lançado em 2005, a universidade é um sistema nacional de ensino, ligado a 55 instituições federais, para levar educação de nível superior aos pontos mais distantes do País.

Seja para a criança ou o adulto, para o curso rápido ou o mestrado de nível internacional, a tecnologia é apoio decisivo. O ensino a distância pela rede, por exemplo, muitas vezes representa a diferença entre aprender ou não. ‘Por causa do trabalho, não teria condições de freqüentar as aulas. O aprendizado online foi a saída’, diz o administrador de empresas carioca Thiago Freitas, 26 anos, que fez um módulo do MBA de Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV) pelo sistema semipresencial (parte pela internet). Para estudantes de regiões remotas, os cursos online permitem o acesso a um ensino de melhor qualidade. ‘A educação pela internet potencializa a chance de termos um país mais igualitário’, observa Frederic Litto, presidente da Abed.

Engana-se quem acha esse tipo de ensino menos rigoroso. Os alunos são acompanhados o tempo todo por tutores e, além das provas, participam periodicamente de chats (bate-papo) nos quais discutem as matérias e também são avaliados. A prática já é rotina em prestigiadas instituições internacionais, como Harvard e Oxford. Mas no Brasil é fato recente. A expectativa é que mais gente tenha acesso a esse método. Em relação à Universidade Aberta do Brasil, o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky, acrescenta que o desafio não é apenas aumentar o número de alunos (informações sobre inscrições pelo site www.uab. mec.gov.br). ‘Nossa preocupação é multiplicar vagas sem perder a qualidade.’

Uma boa notícia é que não param de surgir novas modalidades de ensino a distância. Neste mês, o Senac São Paulo abre as portas de seus primeiros cursos oferecidos no Second Life, a comunidade virtual em que os internautas desenvolvem vidas paralelas. Abrir as portas, na verdade, não é a expressão mais adequada. O espaço físico adotado pelo Senac não tem paredes, muito menos portas – é como se fosse um ginásio aberto. O Senac é a terceira instituição brasileira de ensino a entrar no Second Life – já estão presentes as universidades Anhembi-Morumbi e Mackenzie, ambas de São Paulo. ‘Nós optamos por entrar com serviços e não com a simples montagem de um espaço’, diz Sidney Lattore, gerente de tecnologia da informação do Senac- SP. Há três cursos abertos aos interessados, um de photoshop (programa de edição de imagens) e dois de criação de objetos virtuais. A idéia é disponibilizar também cursos que são dados nas dependências físicas do Senac, como moda e design.

A educação a distância não é a única forma de a tecnologia aprimorar o ensino no Brasil. Há uma imensa variedade de softwares e outros recursos da informática que tornam as aulas mais interessantes e facilitam o acesso à pesquisa. Isso vale também para a rede pública. Um dos programas que procuram aproximar professores e alunos da internet é o Sua Escola a 2000 por hora, parceria da Microsoft com o Instituto Ayrton Senna que beneficia 40 escolas brasileiras, com investimento de R$ 6 milhões. A Escola Municipal Leonilda Montandon, em Araxá (MG), é uma das beneficiadas. Lá, os alunos pesquisam na internet e registram seus trabalhos em um blog. ‘A aula ficou mais interessante’, diz Júlio César Alves Júnior, 13 anos, da terceira série do ensino fundamental. Tudo observado pelos mestres. O objetivo do Instituto Ayrton Senna é mostrar que, com esse método, o professor deixa de ser o único dono do saber. ‘É como um doutorado, onde o estudante corre atrás da informação sob a supervisão de um orientador’, explica Adriana Martinelli, coordenadora do projeto. No Ciep Mestre Marçal, de Rio das Ostras (RJ) – que adotou o Sua Escola como política pública em 2004 -, a professora de geografia Adriana de Souza Lopes vê mudanças comportamentais. ‘Os alunos perderam a timidez e passaram a interagir mais’, avalia. O melhor indicador, porém, é a taxa de aprovação dos estudantes ligados ao Sua Escola: 93,2% em 2006.

Como era de se esperar, os estudantes dos colégios privados estão bem à frente. Alguns dispõem de recursos de ponta, um verdadeiro Matrix educacional. O Objetivo, de São Paulo, recorre à realidade virtual para estimular a garotada. Um dos aparelhos preferidos é o skate voador. A base é acoplada a um simulador de movimentos. O adolescente sobe no skate e usa óculos eletrônicos que fazem uma ‘viagem’ pelas ruas paulistanas de acordo com a manobra executada. Assim o aluno aprende, de modo muito mais atraente, noções de geografia, como relevo, vegetação e clima. ‘É muito legal. Mistura aventura radical com aprendizado’, vibra Rafaella Tomaselli, 13 anos.

Mesmo para as aulas de português a internet pode trazer benefícios. Muita gente reclama que a linguagem dos adolescentes em suas conversas na rede mundial de computadores está aniquilando o idioma – mania que, em geral, não avança para as redações escolares. Mas o computador pode ajudar, se o professor quiser. Foi essa a decisão de Anaídes Maria da Silva, do Colégio Humboldt, em São Paulo. Ela resolveu aproveitar uma viagem que a turma fez para Paranapiacaba (antiga vila localizada na Serra do Mar) e incentivou os alunos a criar um site para postar fotos e poesias com um olhar literário sobre a cidade. Em português correto, ressalte-se. É uma boa estratégia. Stefanie Panza, 17 anos, ganhou apoio da professora para registrar em um blog as mais de 100 poesias que já escreveu. ‘É um laboratório para um livro no futuro’, conta a moça.

Para o ensino brasileiro, o futuro está começando agora, como indica o crescimento do uso da informática nas escolas. É o caso das chamadas lousas digitais – sistema de software que projeta na parede o conteúdo das aulas. ‘Estamos no Brasil há nove anos e vendemos três mil unidades do produto. Metade foi vendida somente no último ano’, contabiliza Claudia Scheiner, diretora-geral da fabricante Smart Technologies. Uma das escolas que adotaram a lousa é o Colégio Ciman, de Brasília. ‘O instrumento faz com que o aluno participe mais ativamente’, diz o diretor Mark Anderson.

Com tudo isso, uma dúvida paira no ar. É sabido que o Brasil enfrenta um sério problema: a falta de computadores. Porém, o recém-lançado Plano de Desenvolvimento da Educação do governo federal pretende zerar esse déficit. Estão previstos gastos de R$ 650 milhões para instalar computadores na rede pública. Em um país onde os professores ganham tão mal e são pouco valorizados, há quem critique o plano e considere que as máquinas se tornaram mais importantes que os mestres. Os especialistas não concordam. ‘O professor continua sendo a base. Com esses recursos ele vai poder fazer o aluno experimentar mais, ousar mais, achar novas soluções’, diz a professora Wânia Clemente de Castro, coordenadora do programa Século XXI, da Prefeitura do Rio. Segundo o senador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação, professor é cabeça, coração e bolso. ‘Bolso bem remunerado, coração bem dedicado e cabeça bem informada. O computador tem de estar na cabeça dele’, avisa (leia mais ao lado). Além disso, os mestres devem entender que as pessoas vivem ligadas à internet. ‘Eles têm de falar a língua do aluno’, recomenda Ivanise Santos, gerente do Centro de Tecnologia e Gestão Educacional do Senac Rio. Afinado com esses novos recursos interativos, o professor cumprirá com mais eficiência a tarefa de ensinar.

OS EDUCADORES DO FUTURO

Ex-ministro da Educação, o senador Cristovam Buarque considera que a entrada do computador nas instituições de ensino exige um novo perfil de professor, mais ligado aos recursos da modernidade. Ele acredita que a sala de aula terá três profissionais: o educador, o programador e o especialista em telecomunicações.

ISTOÉ – Quando foi criado o quadro- negro?

Cristovam Buarque – O professor escocês James Pillans inventou o quadro- negro no século XVIII. Foi o primeiro grande salto da educação. Com isso foi possível colocar 70 pessoas em uma sala. Antes, você dava discurso para muitos, mas aula mesmo era para poucos. O computador traz o segundo salto. Em um quadro-negro, quem fala de sistema solar mostra Marte num lugar, Vênus em outro. Com o computador, você põe isso em três dimensões e em movimento. O computador exige um novo tipo de profissional. O professor do meu tempo vai desaparecer. Ele não ficará mais sozinho. Três pessoas irão elaborar a aula: aquele que chamamos de professor, alguém que entenda de programação para colocar no computador o que o educador quer ensinar, e um terceiro, da área de telecomunicações, para espalhar isso no mundo.

ISTOÉ – A bagagem acumulada pelo professor fica obsoleta com a chegada do computador na escola?

Buarque – O menino que navegou à noite na internet chega na aula, de manhã, sabendo de coisas que o professor desconhece. O ator principal não é mais o professor. São o professor, o aluno e a mídia. Ele não é mais o dono do saber, nem da informação.

ISTOÉ – O aprendizado mais acelerado com o computador pede que tipo de comportamento do professor?

Buarque – Ele tem de estar ciente que não sabe a última coisa. O que ele aprendeu na universidade valeu até aquele dia e daí tem de aprender de novo. Segundo: precisa compreender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não domina. Terceiro: reconhecer seus limites, se não for capaz de usar os recursos novos. O professor que simplesmente não quer usar o computador é como um médico que prefere não usar uma tomografia computadorizada. O professor tem de aprender a mexer no computador.

ISTOÉ – Somente colocar computador na sala de aula resolve?

Buarque – Não adianta. Hoje, se você forrar de computadores uma escola, eles serão roubados em poucos dias. Não há estrutura para recebê-los. Basta dizer que há gente na escola sem luz! Defendo que se use o chamado computador ‘burro’. Ele não é completo: sozinho não funciona. Tem de conectá-lo a uma central de processamento de dados. Você liga e diz: ‘Quero dar uma aula sobre sistema solar.’ Aí, recebe um endereço na internet e pronto. Você tem o computador em um terminal, que o conecta à central. Uma vantagem é que as pessoas não o roubam porque, sozinho, não tem valor. Outra é que você tem acesso a todos os softwares que estão nesse banco de dados. Não precisa comprá-los.

Universidade Federal de Lavras