Proximidade com florestas nativas pode favorecer a biodiversidade em áreas de plantio, diz pesquisa

Wallace em área monitorada.

Um estudo feito com comunidades de escaravelhos, em áreas de plantação de eucaliptos na Amazônia, concluiu que ecossistemas de plantação podem ser melhorados mantendo áreas de florestas naturais ao redor das de produção. Esta foi a conclusão da tese de doutorado de Wallace Beiroz, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada.

Wallace utilizou dados obtidos entre 2009 e 2013, de áreas de plantação de eucalipto próximas ou não de florestas naturais, na região Nordeste do Pará. Aquelas com mais floresta nativa possuíram mais possibilidade para a chegada de besouros rola-bosta, espécies sensíveis e indicadoras da saúde do ambiente. Esses animais desempenham função importante no ciclo da matéria orgânica, transportando nutrientes pelo solo (auxiliando o desenvolvimento das plantas e microrganismos). Em plantações com maior quantidade de floresta ao redor, foram encontradas comunidades com distribuição mais igualitária das características funcionais.

Parte da pesquisa foi dedicada ao registro do número de espécies encontradas nas áreas de plantação, mas Wallace também avaliou outras características, como: o peso médio dos animais; período de atividade (diurnos ou noturnos); e dieta e tratamento do esterco, entre outras características funcionais que afetam a influência das atividades dos besouros no ecossistema. Uma das conclusões foi que as plantações mais próximas das florestas naturais não tinham necessariamente mais espécies de besouros do que as outras, mas costumavam incluir mais besouros com potencial de reciclar mais matéria orgânica.

Uma das espécies de escaravelho encontrada no solo pesquisado.

Assim, essas áreas próximas de florestas naturais tinham funcionamento mais parecido com essas últimas. “Em áreas distantes de florestas naturais (menos úmidas), bichos diurnos estão mais sujeitos a perder água, e é comum que desapareçam de plantações. Assim como animais pesados, que precisam de mais recursos e promovem mais ciclo de nutrientes”, diz o pesquisador.

Durante a pesquisa, outra conclusão foi que o funcionamento do agroecossistema pode se manter, mesmo perdendo espécies em relação à floresta – isso porque algumas delas podem apresentar redundância em relação ao papel no funcionamento. “Por isso, é importante que áreas nativas sejam preservadas, para que sirvam de fonte de espécies para áreas modificadas, promovendo a sustentabilidade”, aponta Wallace.

Uma das características das plantações para permitir mais oportunidade de entrada de espécies naturais é o aumento da área de floresta nativa e natural ao redor. “Ou seja: teoricamente, florestas próximas podem garantir uma maior ciclagem de nutrientes e fluxo de energia em plantações”.

Impactos

Wallace aponta que os resultados podem ser interessantes para a redução  do uso de agrotóxicos e dos gastos de manutenção das plantações. A pesquisa sugere que a restauração ou manutenção de florestas naturais pode facilitar o movimento de espécies: “Os proprietários de plantações têm gastos para fornecer nutrientes para tornar as plantações mais produtivas, mas, caso mantenham a floresta natural ao redor das plantações, podem ter esse serviço gratuitamente dos besouros”, diz.

“Outro resultado interessante foi que apesar dos besouros rola-bosta normalmente se recuperarem, uma seca forte ou prolongada pode prejudicar a comunidade de rola-bosta. Portanto, o aumento das secas devido às mudanças climáticas pode ser um grande problema, já que esses besouros são responsáveis pela ciclagem de nutriente e até dispersão de sementes. Então, podemos estar matando as florestas indiretamente, mesmo aquelas que são consideradas protegidas”.

Dupla titulação com a Universidade de Lancaster

Wallace passou um ano na Inglaterra, no Centro de Meio Ambiente da Universidade de Lancaster, e obteve dupla titulação. A experiência no exterior foi positiva: “Incentivo todos os estudantes a tentar passar um período no exterior. Isso faz enxergar como outra cultura vive, sair um pouco da zona de conforto. Isso muda a forma de ver o mundo e elimina muitos preconceitos”.

Ele foi orientado pelo professor Júlio Louzada (DBI) e teve coorientação dos docentes Emma Sayer, Jos Barlow e Eleanor Slade. A tese, premiada como a melhor do Programa de Pós-Graduação daquele ano, foi defendida no final de 2016.

Núcleo de Divulgação Científica da UFLA.

 

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.