Professora da UFLA fala sobre a relação entre o salmão e o ômega 3

Presente na mesa de muitos brasileiros, principalmente nesta época, o peixe é um aliado na busca por uma alimentação saudável.  Segundo publicações especializadas, a estimativa para 2018 é de que as vendas de peixes e frutos do mar na quaresma cheguem a crescer 50% em relação ao ano passado. A coordenadora do Núcleo de Estudos em Aquacultura (NAQUA), da Universidade Federal de Lavras (UFLA), professora Priscila Vieira e Rosa, explica que o consumo tem crescido no Brasil: “Temos uma conscientização maior do consumidor nos últimos anos de ter uma alimentação mais saudável e também um incentivo maior ao consumo por meio do extinto Ministério de Pesca e Aquicultura, que realizou várias campanhas para aumentar o consumo de pescado. Vale ressaltar que o consumo per capta ano no Brasil gira em torno de 11kg/habitante/ano, aquém do preconizado de OMS, que é de 15 kg/habitante/ano e muito abaixo do consumo Europeu, que gira em torno de 22 kg/habitante/ano. ”

Ainda de acordo com a especialista, o aumento do consumo do pescado é extremamente importante, já que o peixe tem um alto teor nutritivo: “O peixe é fonte de proteínas, minerais, vitaminas e principalmente de lipídeos. O perfil lipídico dos peixes se diferencia dos outros produtos de origem animal, pois tem uma proporção maior de ácidos graxos insaturados, que promovem uma melhor digestão, sendo esse um benefício adicional à saúde. Além disso, alguns peixes têm uma grande concentração de ácidos graxos essenciais da série ômega 3, uma característica exclusiva do pescado. O ômega 3 atua no metabolismo e na fisiologia do nosso organismo, e deve ser um complemento à alimentação humana.”

Um dos peixes mais apreciados pelos brasileiros, incluindo os mineiros, é o salmão. Um estudo da Diretoria da Aquicultura e Pesca da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento mostrou que o salmão, seguido da merluza e do bacalhau, são os peixes importados de maior preferência em Minas Gerais. Já a tilápia é a principal espécie consumida no estado. O grande sucesso do salmão na mesa dos consumidores é devido às recomendações desse peixe como fornecedor de ômega 3, que possui uma grande concentração de ácidos graxos da série n-3 e principalmente pela expansão de pratos japoneses, que geralmente são preparados com essa espécie.

Mas será que o salmão possui realmente tanto ômega 3 quanto dizem? A professora Priscila explica: “ A deposição dos ácidos graxos no corpo é reflexo da composição dos ácidos graxos dos alimentos que o peixe ingere, ou seja, se ele tem na ração ômega 3, ele vai depositá-los na carcaça. Em rações para peixes carnívoros, como é o caso do salmão, até 10 anos atrás, utilizava-se na ração a farinha e/ou óleo de peixe na sua formulação. Consequentemente, ele depositava os ácidos graxos ômega 3 na carcaça. Como a farinha ou o óleo de peixe é caro, além de ser uma fonte finita, os nutricionistas de peixes trabalharam para substituí-los por fontes vegetais, como a soja e o milho, e como essas fontes são ricas em ácidos graxos ômega 6, as concentrações de ácidos graxos ômega 6 aumentaram e de ômega 3 reduziram praticamente à metade; por isso, essa recomendação da ingestão de ômega 3 baseada no consumo do salmão deve ser revista, explica Priscila.

Atualmente, a maior parte do salmão que consumimos é criada em cativeiros, principalmente no Chile, Canadá, Estados Unidos e norte da Europa. O salmão selvagem é proveniente do Alasca e da Rússia. A professora explica que, no caso do salmão selvagem, a captura só é permitida após o período reprodutivo, quando as reservas de gordura do peixe estão reduzidas e, consequentemente a concentração dos ácidos graxos ômega 3 é mais baixa.

Uma outra dúvida que muita gente tem é com relação à cor do salmão. “Em ambiente natural, o salmão consome alimentos que possuem pigmentantes e o depositam na carne. Já no salmão de cativeiro, nós colocamos pigmentante, o mesmo utilizado na avicultura, e ele vai depositar essa cor, que não faz nenhum mal para a saúde”, enfatiza a especialista.

A pesquisadora destaca que no Brasil não há a produção de salmão, mas há muitos peixes tropicais de água doce disponíveis no território nacional que possuem a capacidade de converter os ácidos graxos ômega 3, precursores com 18 carbonos, presentes em alguns óleos vegetais, como a linhaça, por exemplo, nos ácidos graxos fisiologicamente essenciais ômega 3, como o ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosaexaenoico (DHA) e depositar na carcaça. “Essa é uma das linhas de pesquisa que são estudadas na UFLA. Nosso objetivo é colocar no mercado brasileiro uma opção de pescado, como a tilápia e o tambaqui, com uma concentração maior de EPA e DHA e com alto teor de ômega 3”, enfatiza.

Consumo na quaresma

De acordo com o proprietário de uma peixaria em Lavras, a venda de peixes na quaresma aumentam cerca de 30%, chegando a dobrar na Semana Santa. A espécie mais procurada é a Tilápia, principalmente como filé, seguido do Salmão e da Sardinha. Por semana, são comercializados no local (atacado e varejo), em média, 350 quilos de salmão vindos do Chile. Por ser importado, o preço varia conforme a cotação do dólar.

 

 

Imagens e Texto Karina Mascarenhas, jornalista- bolsista Fapemig/Dcom.

Edição: Mayara Toyama – bolsista Fapemig/Dcom.

Esse conteúdo de popularização da ciência foi produzido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig.