UFLA dá início a projeto de recuperação de nascentes em Moçambique

O “Projeto Vozes da África”, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), deu início nessa semana a mais uma ação presencial e efetiva no continente africano. Trata-se de um trabalho de recuperação ambiental em Moçambique.

Além da UFLA, a iniciativa extensionista participativa envolve a Organização Não-Governamental brasileira Fraternidade Sem Fronteiras (FSF) e o Instituo Superior Polivalente de Gaza (ISPG) e atenderá inicialmente a comunidade de Muzumuia, na cidade de Chókwè, distrito de Gaza.

O professor Gilmar Tavares, do Departamento de Engenharia (DEG) e coordenador do Vozes da África, foi quem sugeriu a construção participativa da proposta de recuperação ambiental. A ideia surgiu após o professor integrar, em outubro de 2016, uma caravana humanitária da FSF em Moçambique.

Na ocasião, ele participou da implementação de um programa de segurança alimentar com produtos da agricultura familiar, obtidos de maneira agroecológica. Tavares é parceiro e voluntário da FSF.

Durante a visita ao país africano, o professor percebeu também as dificuldades enfrentadas pelos moradores locais para ter acesso a água potável. Além desse problema, o professor observou que a poluição e a degradação estão consumido a nascente em Muzumuia. “Vi muito assoreamento e degradação ambiental. A ação humana descontrolada, na ânsia dos moradores em conseguir água, acabam contribuindo para a degradação ambiental”, contou.

Depois de retornar ao Brasil, o professor Gilmar solicitou apoio ao Departamento de Ciências Florestais (DCF) e à professora Soraya Alvarenga Botelho. Com isso, um grupo de trabalho foi formado durante o seminário de apresentação da FSF no DCF, em fevereiro desse ano, realizado pela voluntária da FSF Priscila Alexandre.

Uma equipe formada pela professora Soraya elaborou voluntariamente para Moçambique uma cartilha instrutiva. A publicação trata da recuperação e da conservação de nascentes, além do projeto de formação de viveiros de mudas florestais nativas.

Nessa semana, a professora Soraya embarcou para Muzumuia e iniciou o projeto de recuperação da nascente e vai conhecer o trabalho humanitário da FSF.

A proposta de revitalização da nascente foi dividida em quatro etapas: recuperação e conservação da nascente de Muzumuia, produção de mudas nativas para a recuperação ambiental, conservação de remanescentes e reflorestamento da região de Muzumuia com espécies nativas, principalmente com canhoeiras/amaruleiras. Tavares explicou que esse vegetal dá frutos utilizados na produção do licor de Amarula.

Segundo o professor, as ações estão interligadas e a previsão é que elas sejam concluídas no prazo de cinco anos, incluindo a proposta de recuperação de outras nascentes do território moçambicano.

Em 2018, Gilmar Tavares pretende retornar a Moçambique para inspecionar os trabalhos. Ele espera que a recuperação da nascente possa servir de modelo para outras regiões do país. Além de contribuir para preservação do meio ambiente, Tavares considera que um dos legados do projeto é o incentivo à agricultura familiar a partir da Agroecologia.

Ele explicou que o termo diz respeito à produção de alimentos de maneira economicamente viável, ecologicamente correto, socialmente justo, culturalmente adequado e cientificamente comprovado. “A Agroecologia produz alimentos sadios, protege o meio ambiente, gera emprego e renda, fixando o homem no campo de maneira digna, que é o mais correto”, ressaltou.

A parceria entre a UFLA e a Fraternidade Sem Fronteiras teve início em 2016. A ONG fornece alimentação a crianças carentes em Moçambique e sentiu a necessidade de desenvolver tecnologias socioambientais agroecológicas com as famílias de agricultores familiares dessas crianças. Naquele ano, foi articulada inicialmente uma parceria participativa com o professor Gilmar Tavares, devido ao sucesso do Projeto Vozes da África, em franco desenvolvimento na República Democrática do Congo.

Texto: Rafael Passos – Jornalista/bolsista – Fapemig