Atleta do Cria Lavras supera Síndrome de Lenox Gasteaut com a prática de esportes – Duas medalhas na primeira competição

Orgulho de participar da primeira competição
Orgulho de participar da primeira competição

Leonardo Lucas de Sousa Reis, um garoto de 14 anos, portador da Síndrome de Lenox Gasteaut (LG), ganhou as suas primeiras medalhas no X Festival de Atletismo Interescolar de Lavras, realizado no último final de semana. Um exemplo de força e determinação.

Toda a história de vida do Leonardo, carinhosamente chamado por Léo, mudou quando ele passou a ter contato com o esporte. A mãe, Leandra Sousa, que estudou Educação Física na Universidade Federal de Lavras (UFLA), já tinha contato com o Centro Regional de Atletismo (Cria Lavras) e com o professor e técnico Fernando de Oliveira. “Sempre tive uma admiração pelo projeto e enxerguei na prática do atletismo um caminho para o desenvolvimento do Léo, tanto física quanto intelectual e psicológica”.

Mas, possibilitar o contato de Leonardo com o esporte foi algo que exigiu muito esforço e superação. Há sete anos, ele deixou de ter o principal sintoma da LG, que são as múltiplas convulsões. Mas, ainda assim, a síndrome lhe deixou sequelas, como dificuldades cognitivas e de locomoção. O aprendizado dele é mais lento, por isso, somente agora está sendo alfabetizado. “A escola que ele frequenta ministra o conteúdo curricular adaptado às suas necessidades”, afirma Leandra.

A mãe comemora o quanto Léo está mais sociável, conseguindo fazer novas amizades e desenvolvendo melhor a interação com as pessoas
A mãe comemora o quanto Léo está mais sociável, conseguindo fazer novas amizades e desenvolvendo melhor a interação com as pessoas

A mãe conta que por orientações médicas ele não poderia realizar nenhuma prática esportiva, a fim de evitar qualquer prejuízo a sua integridade física. Diante dessa situação, Leandra iniciou um tratamento mais completo para auxiliá-lo na reabilitação, incluindo fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia. “Ele aprendeu a andar de bicicleta e a praticar skate. Com o tempo, foi se desenvolvendo fisicamente”, relata Leandra.

Sua primeira experiência com o atletismo foi durante um treinamento em uma escola da cidade, momento em que Léo teve a iniciativa de participar das atividades. “O professor Fernando estava presente e autorizou a sua participação. Então, Léo saltou barreiras, derrubando apenas uma, e correu os 600 metros”.

Assim, em março desse ano ele começou a treinar no CRIA, obtendo novas experiências com o incentivo da mãe e de todos os envolvidos no projeto. “Meu interesse sempre foi pautado na prática esportiva sem visar o rendimento, pois o esporte é um meio de socialização. Queria que ele tivesse contato com outras crianças”, relata a mãe.

Por conta das complicações da Síndrome de Lenox Gasteaut, Léo apresentou vários obstáculos quando começou a frequentar o Cria. Um deles foi com relação à concentração e ao entendimento das suas responsabilidades.

“Hoje Leonardo está integrado e as suas medalhas são as nossas principais conquistas, não como resultado esportivo, mas como processo educacional. Aprendi que com cuidado conseguiremos trabalhar com crianças como ele”, relata o professor e técnico Fernando de Oliveira.
“Hoje Leonardo está integrado e as suas medalhas são as nossas principais conquistas, não como resultado esportivo, mas como processo educacional. Aprendi que com cuidado conseguiremos trabalhar com crianças como ele”, relata o professor e técnico Fernando de Oliveira.

“Ele chegou todo agitado, queria fazer apenas os seus gostos e não queria participar das atividades. Chamei-o para conversar e expliquei que no projeto existiam regras e uma delas é que ele deveria participar de todas as tarefas. Também coloquei uma das nossas atletas, que é aluna da Pedagogia, Pamela Simão André, integrante do Cria há mais de cinco anos, para direcioná-lo. Ele se tornou um dos meus focos de cuidados, assim como de todos os outros monitores”, conta o professor Fernando.

Após alguns meses de treino, Léo participou da sua primeira competição de atletismo, no sábado (27/6). Dia em que mãe e filho tiveram muitas comemorações. Primeira vez em que Léo subiu ao pódio, com duas medalhas alcançadas. Ele obteve o segundo lugar nos 60 metros com barreiras e terceiro nos 600 metros.

“O Léo foi desacreditado por muitos e julgado como doente e incapaz, porém eu sempre acreditei em seu potencial e agora ele é a prova de que quando fazemos algo que amamos superamos todos os obstáculos. O CRIA Lavras acreditou, treinou e incentivou. O resultado é muito positivo”, conta a mãe, emocionada.

Leandra também relata que por meio do atletismo, Léo passou a se interessar cada vez mais pelos estudos, além de ficar mais calmo, centrado e ter melhoras significativas na alimentação.

A mãe comemora o quanto Léo está mais sociável, conseguindo fazer novas amizades e desenvolvendo melhor a interação com as pessoas. “Há duas semanas ele chegou em casa e me chamou para apresentar dois colegas do atletismo… Sua locomoção melhorou, sua autoestima elevou-se e vejo um maior comprometimento nas tarefas executadas por ele”.

A Competição

O X Festival de Atletismo Interescolar de Lavras foi organizado pelos estudantes da disciplina de Atletismo da UFLA, com a parceria do projeto Cria Lavras. A competição reuniu crianças das escolas de Lavras, dos projetos CRIA de Ijací, Nepomuceno, Bom Sucesso, Perdões e Santo Antônio do Amparo. As crianças passaram o dia praticando diversas provas do atletismo. Mais importante que os resultados individuais dos atletas, fica o legado da participação de todas as crianças participantes, que receberam um ótimo incentivo à prática de esportes.

X Festival de Atletismo Interescolar de Lavras na nova Pista de Atletismo da UFLA
X Festival de Atletismo Interescolar de Lavras na nova Pista de Atletismo da UFLA
Texto: Camila Caetano – jornalista, bolsista/UFLA